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Pela terceira vez
Lula tem oportunidade de abrir a infra-estrutura ao capital privado, que mostra apetite elevado por investimentos
A CADA leilão para conceder serviços públicos à
iniciativa privada, evidencia-se que o apetite
de empresas e investidores pela
infra-estrutura não tem paralelo
na história recente do país. Terminou ontem o leilão de faixas
de freqüência para a telefonia celular de terceira geração (3G),
com lances vencedores superando o preço mínimo em até 274%.
Obtendo ágio médio próximo a
80% nos arremates, a Anatel deu
início a mais uma etapa de atualização tecnológica da telefonia
móvel no país. Os celulares 3G
vão dar aos usuários acesso a
uma plataforma de banda larga
para conectar-se à internet. A velocidade para baixar e enviar arquivos será multiplicada. Entre
outras inovações, conversas com
o uso de vídeo serão facilitadas,
assim como a recepção do sinal
da TV digital nos aparelhos.
As empresas que venceram os
leilões assumiram metas progressivas de universalização do
serviço. Em até dois anos, o 3G
deverá estar disponível em 80%
da área urbana das capitais; em
até quatro anos, precisará abranger as cidades com mais de 200
mil habitantes; em oito anos, ao
menos 60% dos municípios menores -população inferior a 30
mil- devem estar cobertos.
Pela terceira vez consecutiva,
um leilão federal atinge cifras
surpreendentes, até para o governo. Assim também ocorreu
com a privatização de sete trechos de rodovias federais, em outubro, e com o pregão da usina
hidrelétrica de Santo Antônio,
no rio Madeira, há dez dias.
Não há movimentação aparente no governo Lula para que o
país aproveite melhor essa fortíssima demanda do setor privado por investimentos em infra-estrutura. O caminho parece tão
óbvio que apenas a associação
entre uma ideologia estatista ultrapassada e um modo de fazer
política calcado na farta distribuição de cargos -e que fracassou, ademais, na votação da
CPMF- pode explicar a inação.
Abrir a infra-estrutura hoje
controlada pelo Estado significa
contrariar esses interesses. Os
cabides de emprego das estatais
que cuidam dos portos federais
seriam golpeados. A Infraero e
suas copiosas prebendas, idem. A
contrapartida seria beneficiar a
sociedade, com a superação de
gargalos em áreas cruciais para a
manutenção de taxas elevadas de
crescimento econômico.
O presidente Lula é um político pragmático. Dá mostras de lucidez agora, ao conduzir sem estrépito o ajuste das contas públicas ao fim da CPMF. Depende
dele a decisão pela abertura ambiciosa da infra-estrutura ao capital privado. Haverá companheiros frustrados na mesma
medida em que surgirão oportunidades para o indefectível
"Nunca na história deste país".
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