São Paulo, quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

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Pela terceira vez

Lula tem oportunidade de abrir a infra-estrutura ao capital privado, que mostra apetite elevado por investimentos

A CADA leilão para conceder serviços públicos à iniciativa privada, evidencia-se que o apetite de empresas e investidores pela infra-estrutura não tem paralelo na história recente do país. Terminou ontem o leilão de faixas de freqüência para a telefonia celular de terceira geração (3G), com lances vencedores superando o preço mínimo em até 274%.
Obtendo ágio médio próximo a 80% nos arremates, a Anatel deu início a mais uma etapa de atualização tecnológica da telefonia móvel no país. Os celulares 3G vão dar aos usuários acesso a uma plataforma de banda larga para conectar-se à internet. A velocidade para baixar e enviar arquivos será multiplicada. Entre outras inovações, conversas com o uso de vídeo serão facilitadas, assim como a recepção do sinal da TV digital nos aparelhos.
As empresas que venceram os leilões assumiram metas progressivas de universalização do serviço. Em até dois anos, o 3G deverá estar disponível em 80% da área urbana das capitais; em até quatro anos, precisará abranger as cidades com mais de 200 mil habitantes; em oito anos, ao menos 60% dos municípios menores -população inferior a 30 mil- devem estar cobertos.
Pela terceira vez consecutiva, um leilão federal atinge cifras surpreendentes, até para o governo. Assim também ocorreu com a privatização de sete trechos de rodovias federais, em outubro, e com o pregão da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no rio Madeira, há dez dias.
Não há movimentação aparente no governo Lula para que o país aproveite melhor essa fortíssima demanda do setor privado por investimentos em infra-estrutura. O caminho parece tão óbvio que apenas a associação entre uma ideologia estatista ultrapassada e um modo de fazer política calcado na farta distribuição de cargos -e que fracassou, ademais, na votação da CPMF- pode explicar a inação.
Abrir a infra-estrutura hoje controlada pelo Estado significa contrariar esses interesses. Os cabides de emprego das estatais que cuidam dos portos federais seriam golpeados. A Infraero e suas copiosas prebendas, idem. A contrapartida seria beneficiar a sociedade, com a superação de gargalos em áreas cruciais para a manutenção de taxas elevadas de crescimento econômico.
O presidente Lula é um político pragmático. Dá mostras de lucidez agora, ao conduzir sem estrépito o ajuste das contas públicas ao fim da CPMF. Depende dele a decisão pela abertura ambiciosa da infra-estrutura ao capital privado. Haverá companheiros frustrados na mesma medida em que surgirão oportunidades para o indefectível "Nunca na história deste país".


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