São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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RUY CASTRO

O amante insaciável

O amante insaciável - Pena que o cinema italiano já não tenha Vittorio de Sica ou seus grandes seguidores na comédia, como Mario Monicelli, Dino Risi, Pietro Germi. Qualquer um deles poderia produzir uma obra-prima baseada nas peripécias do primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Mas, se não temos mais aqueles diretores, tampouco teríamos o ator ideal: Alberto Sordi, com quem Berlusconi se parece até na exuberante canastronice.
Segundo relatório vazado pelo WikiLeaks, os diplomatas americanos descobriram que Berlusconi passa as noites em claro, protagonizando as orgias mais cabeludas de Roma desde Nero. Claro que, antes do WikiLeaks e da diplomacia americana, as agências de notícias, os jornais e milhões de leitores no mundo inteiro já sabiam disso -raro o dia nos últimos anos em que Berlusconi não foi notícia em relação a alguma profissional do sexo.
Aliás, esta é a grande decepção sobre Berlusconi: sua carreira de amante insaciável parece toda baseada em sexo pago. Donde o ator para interpretá-lo teria de ser mesmo Sordi (ou Totò, também cômico), e não um daqueles letais galãs italianos do passado, como Raf Vallone, Massimo Girotti, Gabrielle Ferzetti ou os jovens Gassman e Mastroianni.
Seja como for, esse filme agora teria de esperar. Os italianos se cansaram de achar graça em Berlusconi e estão indo em batalhões às ruas de Roma para exigir sua saída do governo. A polícia vem de gás lacrimogênio, e a turba reage jogando pedras e incendiando barricadas. O que é terrível: cada pedra de Roma tem 2.500 anos e suas esquinas contêm mais história do que o Brasil inteiro. E Roma já ardeu por causas mais nobres que o bota-fora de Berlusconi.
Equivaleria aos brasileiros marchar sobre Brasília para exigir a cassação do Tiririca. Mas, se a Itália pode ter Berlusconi, por que não podemos ter Tiririca?


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