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ELIANE CANTANHÊDE
"Contaminação"
BRASÍLIA - "Há cinco anos, eu estava sozinho. Éramos eu e o Fidel.
Agora, já tenho comigo Lula, Kirchner, Evo, Tabaré e Ortega", me disse
Chávez numa conversa rápida em
que ficou uma dúvida: o que significa "já tenho comigo"?
Há cinco anos, os presidentes
eram mais formais, os discursos só
enfatizavam a economia e o comércio (com concessões à "preocupação social"), e o Brasil sempre parecia imperar sobre os demais.
Muita coisa mudou, ou parece estar mudando. Os presidentes são o
indígena Evo Morales, o peculiar
Kirchner, o "socialista desde os 16
anos" Tabaré Vázquez, o jovem economista de esquerda Rafael Correa
e até uma mulher, Michelle Bachelet. E Lula não impera.
Chávez ameaça fechamento econômico e endurecimento político,
mas está, sim, "contaminando" os
vizinhos -no mínimo, pauta seus
discursos. Todos ajustaram tom e
prioridades aos de Chávez, o que
equivale dizer: à esquerda. Uns porque já eram, outros porque viraram
(caso de Kirchner). E ambicionam
ampliar as fronteiras e os propósitos do Mercosul. Criado como um
fim em si mesmo, hoje o bloco é um
trampolim para a união de toda a
América do Sul, quiçá (um dia...) da
própria América Latina.
E os propósitos evoluem para algo que parece meramente retórico,
mas pode não ser: novas formas de
desenvolvimento, integração, ajuda
mútua, disputa de mercados, tendo
como alvo real a inclusão social, não
num país, mas em todos.
Os resultados da 32ª Reunião de
Cúpula do Mercosul foram objetivamente pobres. A Bolívia não foi
incluída, o Paraguai e o Uruguai só
levaram "peanuts" para casa, não
houve nenhuma surpresa.
Mas ficou uma certeza: alguma
coisa acontece na América do Sul.
Pode não ser o "socialismo do século 21" de Chávez, até porque ninguém sabe que bicho é. Mas é algo
certamente voltado para a maioria,
não para teorias e tecnicidades.
elianec@uol.com.br
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