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CLÓVIS ROSSI
Comemorando o crime
SÃO PAULO - Digamos que tenha
havido, na sua cidade, em meros
três dias, uma seqüência de 41 assaltos a ônibus, 17 deles no formato
de arrastões praticados por grupos
de até 30 homens armados.
Você, provavelmente, mesmo
que não tenha sido vítima direta de
nenhuma das ocorrências, ficaria
indignado, assustado, amedrontado ou uma mistura de todas essas
emoções.
Bom, se você teve uma reação
normal, azar seu: está eliminado de
qualquer possibilidade de, algum
dia, candidatar-se ao cargo de comandante-geral da Polícia Militar,
ao menos na Bahia.
Sim, porque, na capital baiana,
durante o Carnaval (e até a tarde de
segunda-feira), ocorreram de fato
41 assaltos a ônibus, 17 deles tomaram de fato a forma de arrastões -e
ainda houve o apedrejamento de
187 ônibus.
Como se fosse pouco, um passageiro foi jogado pela janela do ônibus em movimento e está internado com ferimentos graves.
Muito bem. Qual a reação do comandante-geral da PM, coronel
Antônio Jorge Santana?
"Só temos a comemorar", afirmou o coronel, segundo o relato de
Luiz Francisco, da Agência Folha
em Salvador. O comandante ainda
acrescentou: "Estamos com uma
polícia atuante, trabalhando equipada com celulares, câmeras e helicópteros, para trazer mais segurança e tranqüilidade para o folião
baiano e turistas".
Ah, o número de ocorrências registradas em três dias (até domingo
de manhã) havia sido de 1.280 (uma
a cada três minutos).
Se essa é a noção de "polícia
atuante", se essa é a noção de "segurança e tranqüilidade", se 41 assaltos a ônibus são motivos para comemorar, é porque as autoridades
brasileiras perderam completamente o rumo.
Ainda bem que hoje é Cinzas, e
Cinzas não dá motivos para mais
"comemorações".
crossi@uol.com.br
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