São Paulo, quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

Comemorando o crime

SÃO PAULO - Digamos que tenha havido, na sua cidade, em meros três dias, uma seqüência de 41 assaltos a ônibus, 17 deles no formato de arrastões praticados por grupos de até 30 homens armados.
Você, provavelmente, mesmo que não tenha sido vítima direta de nenhuma das ocorrências, ficaria indignado, assustado, amedrontado ou uma mistura de todas essas emoções.
Bom, se você teve uma reação normal, azar seu: está eliminado de qualquer possibilidade de, algum dia, candidatar-se ao cargo de comandante-geral da Polícia Militar, ao menos na Bahia.
Sim, porque, na capital baiana, durante o Carnaval (e até a tarde de segunda-feira), ocorreram de fato 41 assaltos a ônibus, 17 deles tomaram de fato a forma de arrastões -e ainda houve o apedrejamento de 187 ônibus.
Como se fosse pouco, um passageiro foi jogado pela janela do ônibus em movimento e está internado com ferimentos graves. Muito bem. Qual a reação do comandante-geral da PM, coronel Antônio Jorge Santana?
"Só temos a comemorar", afirmou o coronel, segundo o relato de Luiz Francisco, da Agência Folha em Salvador. O comandante ainda acrescentou: "Estamos com uma polícia atuante, trabalhando equipada com celulares, câmeras e helicópteros, para trazer mais segurança e tranqüilidade para o folião baiano e turistas".
Ah, o número de ocorrências registradas em três dias (até domingo de manhã) havia sido de 1.280 (uma a cada três minutos).
Se essa é a noção de "polícia atuante", se essa é a noção de "segurança e tranqüilidade", se 41 assaltos a ônibus são motivos para comemorar, é porque as autoridades brasileiras perderam completamente o rumo.
Ainda bem que hoje é Cinzas, e Cinzas não dá motivos para mais "comemorações".

crossi@uol.com.br


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