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LUIZ FERNANDO VIANNA
O baile dos mascarados
RIO DE JANEIRO - Para quem
acompanha os desfiles das escolas
de samba, o fato mais importante
deste ano não foi algo ocorrido na
Marquês de Sapucaí, e sim na Cidade do Samba, onde ficam os barracões das escolas do Grupo Especial.
Foi o primeiro Carnaval em que
tudo se fez lá, e o resultado foram
alegorias impressionantes, tanto
nos dispositivos tecnológicos como
no acabamento artesanal. E o mais
incrível: nenhuma delas quebrou.
Houve só falhas menores e um incêndio na rua, após o desfile, por
causa do choque de um carro da
Grande Rio com fios de alta tensão.
Essa sofisticação é o coroamento
de uma relação que não tem nada
de ultramoderno. Na verdade, tem
a idade do Brasil: os negócios feitos
entre os que supostamente cuidam
do interesse público e os que supostamente burlam esse interesse.
A Cidade do Samba custou R$ 108
milhões à Prefeitura do Rio e é totalmente controlada pelos bicheiros da Liga Independente das Escolas de Samba. Em troca, o prefeito
Cesar Maia ganhou um busto no local e tem seu nome exaltado por dirigentes e puxadores de samba.
Enquanto Maia gosta de aparecer
empurrando alegorias ou varrendo
o chão, os contraventores -que
nesta época não são chamados assim na televisão- andam com altivez no meio da passarela, distribuindo acenos e dando autorizações para que entrem na pista seus
amigos e as mulheres de remota
profissão que os acompanham.
Nada mais carnavalesco do que
essa inversão de papéis, acrescida
do paradoxo de que, do ponto de
vista da gestão do espetáculo, quem
modernizou o desfile foram os bicheiros. Mas os recursos para o
Sambódromo e para muito mais
saíram do erário. No Brasil, onde
nada é para todos, vale o escrito: o
investimento é público, e o lucro é
privado. Sem impostos ou prestação de contas.
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