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FERNANDO RODRIGUES
Foi "desculpa esfarrapada"
BRASÍLIA - Deve-se ao deputado
Rafael Guerra (PSDB-MG), primeiro-secretário da Câmara, o esclarecimento necessário e definitivo a
respeito de certas declarações de
congressistas pelos corredores do
Poder Legislativo.
Na última terça-feira, o tucano
trombeteou uma transparência
meia-sola para os gastos mensais
extras de R$ 15 mil de cada deputado. A Câmara passaria a divulgar
apenas o nome, e não o CNPJ, das
empresas prestadoras de serviços.
Noves fora, não haveria transparência. Seria praticamente impossível descobrir quem usa recibos frios
nessa operação. "O CNPJ não será
divulgado porque abre a vida das
empresas, e a gente não escolhe a
folha corrida de empresa", explicou
Guerra.
Menos de 24 horas depois, sob
pressão, a Câmara recuou. Anunciou-se também a divulgação do
CNPJ das empresas. Foi quando o
mineiro Rafael Guerra ensinou de
maneira involuntária como se deve
interpretar os políticos: "Cheguei a
dar uma desculpa esfarrapada no
dia anterior. Mas acho correto disponibilizar tudo sem restrições".
O tucano prestou um grande favor à transparência. Agora, por obra
de uma declaração oficial, sabe-se
que justificativas para projetos de
lei e outras decisões dentro do Congresso devem ser, num primeiro
momento, consideradas apenas
"desculpas esfarrapadas".
Talvez seja esse o caso das notas
fiscais dos últimos oito anos, apresentadas como justificativas de despesas. Os deputados rebarbam a hipótese de divulgar esses recibos antigos -a regra nova só vale para o
futuro. A razão do segredo: a Câmara ficaria paralisada num processo
sem fim se resolvesse abrir toda essa documentação do passado.
Se vigorar o "axioma de Rafael
Guerra", pode ser só mais uma desculpa esfarrapada. Depois do Carnaval, quem sabe, se pressionada, a
Câmara mude de opinião.
frodriguesbsb@uol.com.br
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