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RUY CASTRO
Ponte aérea
RIO DE JANEIRO - Ano que vem,
espero completar 30 anos de ponte
aérea. Digo espero porque pretendo
estar firme no balcão do aeroporto
com meu e-ticket para pegar um
cartão de embarque e tomar o
avião. Só não sei se, dentro de um
ano, ainda teremos balcão, aeroporto ou avião.
Em 1978, eu próprio estava com
30 anos, morara na Europa e já tinha ido a Nova York, a trabalho ou à
toa, sei lá quantas vezes. Mas não
conhecia São Paulo -era possível
isso. Em meados daquele ano, um
convite de uma revista para uma
reunião me levou à Paulicéia pela
primeira vez. E, no fim do ano, outra revista me ofereceu sua editoria
de cultura, o que significava pegar a
mulher, as filhas, a mobília e me
instalar. Fui.
Minha idéia era passar três anos
em São Paulo. Por vários motivos,
nem todos profissionais, passei 17.
Mas a natureza do trabalho e a minha própria fizeram com que eu
nunca ficasse longe do Rio. À média
de 1,5 viagem por mês, eram 18 viagens por ano -ou 306 em 17 anos.
Com os vôos de ida e volta, multiplique por dois e teremos 612, o número de vezes em que subi ou desci no
Santos Dumont ou em Congonhas
nesse período. Por baixo.
E quase sempre no Electra, com
sua saleta perto da cauda, preferida
pelos habitués da ponte. Éramos
amigos das aeromoças, dos pilotos e
do pessoal de terra. A Varig, a Cruzeiro, a Vasp e a Transbrasil faziam
66 vôos por dia, um vôo a cada 15
minutos. Perdia-se um e tomava-se
outro. Poucas vezes fiquei empacado num dos aeroportos. Os quais
eram modestos, mas eficientes e
acolhedores.
De novo no Rio desde 1995, agora
faço o inverso: vou com freqüência
a São Paulo. Ultimamente, menos
do que deveria. Não vejo muita graça no risco de um apagão com dez
aviões, entre eles o meu, sobrevoando a cidade na fila para pousar.
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