São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Nem Ele

BRUXELAS - Índios matando garimpeiros, presos decapitando presos e exibindo a cabeça do alto do presídio. Em que diabólico filme "noir" dos anos 40 ou 50 ficou preso o Brasil, meu Deus?
O brasileiro parece tão anestesiado pela violência cotidiana a que é exposto que nem se dá conta do grau de primitivismo do país, aqui e ali exposto com dureza por notícias como as que abrem este espaço.
Perdemos o rumo de uma maneira tão absurda, tão completa, que ficou difícil entender quem é vítima e quem é culpado, quem é criminoso e quem é inocente em cada episódio de violência que aparece. E, aliás, logo desaparece, por ter sido suplantado por outra violência, de absurdo igual ou maior.
A Rocinha já não estava ontem nas capas dos jornais, a não ser marginalmente, atropelada pelo sangue que escorria das notícias dos confins da pátria.
Há apenas dois pontos comuns em todos os episódios violentos que ocuparam o noticiário nos dias recentes: a selvageria absoluta dos principais atores e a incapacidade de o Estado assumir o que lhe é (ou deveria ser) inerente, que é o monopólio no uso das armas e da força.
É bom deixar claro que a culpa não é do governo Lula ou só do governo Lula. O descontrole vem de anos e anos e, como é inevitável, só fez agravar-se ante a inércia oficial.
A culpa do governo Lula é a de, também nesse terreno, seguir a tônica dos demais e nada fazer, o que, de novo, só contribui para agravar os problemas.
Tanto o governo atual como os anteriores deixaram a nítida sensação de que os problemas são maiores, muito maiores, do que a competência deles e, por extensão, do que a capacidade de oferecer respostas.
Não é à toa que Lula entregou a sorte dos desempregados a Deus. Pena que faz uma pá de tempo que Deus pediu demissão da cidadania brasileira que lhe outorgaram sem consulta. Nem Ele agüentou.


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