|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Nem Ele
BRUXELAS - Índios matando garimpeiros, presos decapitando presos e
exibindo a cabeça do alto do presídio.
Em que diabólico filme "noir" dos
anos 40 ou 50 ficou preso o Brasil,
meu Deus?
O brasileiro parece tão anestesiado
pela violência cotidiana a que é exposto que nem se dá conta do grau de
primitivismo do país, aqui e ali exposto com dureza por notícias como
as que abrem este espaço.
Perdemos o rumo de uma maneira
tão absurda, tão completa, que ficou
difícil entender quem é vítima e
quem é culpado, quem é criminoso e
quem é inocente em cada episódio de
violência que aparece. E, aliás, logo
desaparece, por ter sido suplantado
por outra violência, de absurdo igual
ou maior.
A Rocinha já não estava ontem nas
capas dos jornais, a não ser marginalmente, atropelada pelo sangue
que escorria das notícias dos confins
da pátria.
Há apenas dois pontos comuns em
todos os episódios violentos que ocuparam o noticiário nos dias recentes:
a selvageria absoluta dos principais
atores e a incapacidade de o Estado
assumir o que lhe é (ou deveria ser)
inerente, que é o monopólio no uso
das armas e da força.
É bom deixar claro que a culpa não
é do governo Lula ou só do governo
Lula. O descontrole vem de anos e
anos e, como é inevitável, só fez agravar-se ante a inércia oficial.
A culpa do governo Lula é a de,
também nesse terreno, seguir a tônica dos demais e nada fazer, o que, de
novo, só contribui para agravar os
problemas.
Tanto o governo atual como os anteriores deixaram a nítida sensação
de que os problemas são maiores,
muito maiores, do que a competência
deles e, por extensão, do que a capacidade de oferecer respostas.
Não é à toa que Lula entregou a
sorte dos desempregados a Deus. Pena que faz uma pá de tempo que
Deus pediu demissão da cidadania
brasileira que lhe outorgaram sem
consulta. Nem Ele agüentou.
Texto Anterior: Editoriais: ESCOLAS PELA METADE Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: Brasília, 44 Índice
|