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CARLOS HEITOR CONY
O mundo e o indivíduo
RIO DE JANEIRO - Dois fatos, que aparentemente nada têm em comum, podem servir de reflexão para
avaliarmos como ficou difícil o bem
comum da humanidade. Bin Laden,
que, apesar de comandar uma facção
terrorista internacional, não deixa de
ser um simples indivíduo, propôs
uma trégua a diversos países europeus desde que sejam retiradas as
tropas coligadas aos Estados Unidos.
Um eu-sozinho, praticamente,
substitui um Estado e enfrenta outros
Estados soberanamente organizados,
com leis, representação popular, estrutura diplomática e militar autônomas.
O outro fato de certa forma está no
pólo trocado. O líder do Hamas, que
chefiava um dos grupos palestinos
contra Israel, foi morto dentro de seu
carro não por um soldado ou assaltante numa esquina qualquer do
Oriente Médio, mas por um míssil
disparado por uma unidade da força
aérea israelense.
Não houve batalha nem bombardeio. Foi uma briga isolada entre um
Estado legalmente constituído e um
indivíduo. A tecnologia de Israel,
uma das mais adiantadas do mundo,
dispõe de armas consideradas inteligentes, capazes de destruir um alvo
isolado, um homem no meio da multidão.
A reflexão que se pode tirar dos dois
fatos da semana passada é preocupante. O avanço tecnológico, mais cedo ou mais tarde, criará espécies de
doutor Silvana, aquele cientista louco que nunca era vencido pelo capitão Marvel e que, quando ria, fazia
"hi hi hi". Ou, mudando de ficção,
aquele Doutor No, que o James Bond
não conseguia destruir.
Na atual situação, poderemos ser
reféns do dia para a noite de um único indivíduo, que, dispondo de uma
rede ou de um arsenal próprios, atuará na voz passiva ou ativa dentro da
estrutura mundial. Um garoto-gênio,
em qualquer parte do mundo, dominando superlativamente a informática, sozinho, pode fazer estrago
maior do que as hordas de Gengis
Khan e as tropas de Hitler.
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