São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2003 |
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FERNANDO RODRIGUES Lula versão 87
BRASÍLIA - É quase fascinante assistir ao vídeo de 1987 em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ataca
a TV Globo, chama José Sarney de ladrão e critica a criação da idade mínima para a aposentadoria.
Lula disse tudo isso em Aracaju, em
um discurso no qual defendia as propostas do PT para o então Congresso
constituinte. Uma das idéias do partido vingou: não foi estabelecida idade mínima para os trabalhadores da
iniciativa privada.
Hoje, o PT defende que os servidores públicos tenham 60 anos (homens) e 55 anos (mulheres) para requisitarem aposentadoria.
Há pouca ou nenhuma novidade
em dizer que Lula afirmava tudo isso
aos berros no passado. Mas ver tudo
novamente em vídeo é chocante.
É difícil não simpatizar com os argumentos -sem fazer juízo de valor
a respeito do mérito das propostas,
muitas vezes fora da realidade- dos
hoje chamados "radicais" do PT.
"Nesse discurso, nem parece o Lula
de hoje", diz a deputada Luciana
Genro (RS). "Eu não sou contra o Lula mudar de opinião, mas não podem
me punir por ficar onde sempre estive", diz outro deputado, João Fontes
(SE). Os dois têm razão.
Se o PT quisesse mesmo as coisas
como devem ser feitas, estaria obrigado a prever esses problemas todos lá
atrás. Antes de Lula ser eleito, poderia ter aprovado as novas políticas do
partido em convenção nacional.
Agora, é evidente que uma convenção convocada com esse propósito viraria um circo.
Por essa razão, os "radicais" do PT
resolveram partir para o ataque. Vão
radicalizar em público. Algo que poderia muito bem ter sido feito de forma civilizada, em privado.
Será um processo doloroso de purgação -e até de uma certa humilhação- para a cúpula petista. |
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