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Muralha chinesa
Lula volta de mãos vazias de Pequim, sem ter avançado no objetivo de diversificar a pauta do comércio bilateral
A VIAGEM do presidente
Lula à China termina
como a anterior, em
maio de 2004, e a do
presidente Hu Jintao ao Brasil,
seis meses depois: sem resultados relevantes para nosso país. O
regime chinês, por seu turno, obteve várias conquistas no período, mesmo sem
ter oferecido
contrapartidas
significativas.
Lula parte de
Pequim sem
acordos novos
para exibir. O
contrato da Petrobras para exportar 150 mil
barris diários de
petróleo em
2009 já fora
anunciado em fevereiro. A liberação para entrada do frango
brasileiro na China data de 2008.
Na gaveta ficaram a meta de reverter o cancelamento da compra de 45 aviões da Embraer e
questão das barreiras para carnes suína e bovina.
Em 2004, Lula podia dizer-se
traído pelos chineses. Logo após
sua visita, a China suspendeu
embarques da soja brasileira, sob
pretexto de contaminação. Soja e
seus derivados constituem o
item principal das exportações
para aquele país -32% do total
das vendas em 2008.
Por ocasião da vinda de Hu
Jintao, o Planalto, apressadamente, reconheceu a China como economia de mercado plena,
sob protesto da indústria daqui,
que viu assim restringida a margem para mover ações antidumping contra os chineses. A contrapartida, autorizar embarques
de frango brasileiro, arrastou-se
por quatro anos.
A burocracia chinesa usa sem
peias a alavanca que a assimetria
do comércio bilateral lhe franqueia. O movimento comercial
mais que quintuplicou desde
2003 e, nos dois últimos anos, se
tornou superavitário para a China, com saldos de US$ 3,6 bilhões (2008) e US$ 1,9 bilhão
(2007). O país asiático acaba de
tomar o lugar dos EUA como
principal parceiro comercial do
Brasil.
Do ponto de
vista qualitativo,
a vantagem chinesa é muito
mais evidente e
preocupante.
Mais de três
quartos do que
exportamos para lá são itens
básicos, como
produtos agrícolas, petróleo e
minérios. Mesmo entre industrializados, semimanufaturados
(16%) levam vantagem sobre
manufaturados (7%). Dos dez
principais produtos que os chineses nos vendem, nove são
equipamentos eletroeletrônicos,
com muito mais valor agregado.
O governo federal diagnosticou, corretamente, a necessidade de diversificar a pauta das exportações e de atrair investimentos chineses para o território nacional. O Brasil pode vender
mais e melhor para a China. A
fim de que isso ocorra, autoridades e empresas precisam deslanchar uma ofensiva sobre aquele
mercado, com mais profissionalismo e organização do que o demonstrado até aqui.
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