São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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ESQUELETOS REAIS

Foi mais uma semana perdida. O governo foi não só incapaz de romper o círculo vicioso da queda da confiança no real como enfrenta nova onda de desconfiança internacional. A agência de classificação de risco Moody's anunciou que, na sua classificação do Brasil, a perspectiva passa de estável para negativa.
Vistas em si mesmas, as medidas anunciadas pelo governo na semana passada praticamente condenam o país a uma taxa de crescimento, na melhor das hipóteses, vegetativa neste ano. A única fonte de dinamismo visível seriam as exportações, mas também nesse campo o desempenho brasileiro deixa a desejar.
A essa altura, não ter o apoio do FMI seria péssimo, mas contar com a ajuda do Fundo está longe de ser uma garantia de sustentação. E o aperto fiscal, que supostamente deveria indicar aos mercados que o governo é austero e responsável, pode ser tachado de insuficiente quando o tamanho das contas a pagar é considerado grande demais.
Os credores e investidores internacionais parecem tecnicamente competentes apenas nos momentos de calma. Mas há transmutação nos mercados, que beira o irracional, quando o cenário global é turvo, a economia regional se esfacela e o futuro da política econômica brasileira repousa na incerteza.
Nesses momentos, a magnitude das contas a pagar impressiona mais que o potencial das contas a receber. Há pouco a fazer, do ponto de vista da política econômica, quando se arma uma grande onda de especulação contra uma moeda fraca.
O que assusta o investidor global é constatar que o país tem uma dívida bruta que supera os 70% do PIB. É perceber que o prazo de financiamento desse passivo se torna a cada dia mais curto e as taxas de juros, proibitivas. Além disso, o governo acaba de reconhecer a existência de mais R$ 11 bilhões em "esqueletos". Juros e dólar altos também oneram a dívida pública, enquanto a queda no crescimento no país e no mundo torna mais duvidosas as perspectivas de o setor privado pagar suas próprias dívidas, em reais ou em dólares.
Não é por acaso que o risco Brasil tornou-se menor apenas que o da Argentina. O cenário é bastante grave.


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