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CIÊNCIA SOB AMEAÇA
É reconfortante saber que o
ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, defende que o
país autorize pesquisas com células-tronco embrionárias, a chamada clonagem terapêutica. A matéria será
disciplinada pela Lei de Biossegurança, que tramita no Senado. Na versão
do projeto que saiu da Câmara, por
força dos lobbies evangélico e católico, esse tipo de investigação foi, para
efeitos práticos, proibido.
A clonagem terapêutica é uma das
principais promessas da ciência para
o tratamento de doenças como diabetes e mal de Parkinson, além de
trazer a perspectiva de que, um dia,
laboratórios possam desenvolver órgãos para transplantes.
O princípio geral é o de que células-tronco embrionárias conservam a
capacidade de converter-se em qualquer tipo de tecido, de pele a ossos. A
objeção religiosa é que, para obter as
células-tronco, é necessário destruir
embriões quando estão na fase de
blastocistos, um emaranhado de cerca de uma centena de células.
Já existem milhares de embriões
nessas condições em clínicas de fertilidade. Eles serão destruídos de
qualquer forma, pois são sobras de
processos de fertilização "in vitro"
ou não apresentam qualidade para
dar lugar a uma gravidez.
A clonagem terapêutica, é certo,
desempenhará um papel central na
investigação médica nos próximos
anos. Privar os cientistas brasileiros
de participar de um dos principais
veios da pesquisa é condená-los ao
atraso. Quem faz objeções morais à
destruição de embriões que nunca
terão a chance de gerar uma vida está
absolutamente livre para jamais utilizar-se das terapias que a clonagem
terapêutica possa produzir.
Infelizmente, há razões para temer
que o bom senso demonstrado pelo
ministro Eduardo Campos não seja
uma unanimidade no governo, que
quer a lei de Biossegurança aprovada
a toque de caixa para liberar o plantio
da soja transgênica e, ao que parece,
prefere não se indispor com as bancadas evangélica e católica.
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