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OTAVIO FRIAS FILHO
Direita perplexa
Collor disse que seu governo
deixaria a esquerda perplexa e a
direita indignada. Lula está fazendo o
contrário disso, com o complemento
de que a direita não está apenas perplexa, mas agradavelmente perplexa.
A aprovação chega a ser entusiástica
nos meios financeiros, reforçada pelo
contraste com expectativas anteriores.
Depois do estrangulamento promovido no primeiro semestre, a recente
queda na taxa básica de juros exerceu
esperado efeito de alívio, como se fosse razão para comemorar que esse piso esteja agora em "apenas" 22%!
Uma débil aragem em favor da produção que não altera o caráter essencial
do governo, comprometido a fundo
com a doutrina que foi eleito para supostamente substituir.
Na gestão da economia, o governo
adota política semelhante, para não
dizer idêntica, à do período Malan. Essa mesma política restringe gastos e
investimentos nas demais áreas, onde
o governo se mostra, além disso, confuso e incapaz. A política externa é
chamativa, com maior independência
retórica, mas em termos reais ainda
está por ser provada.
A única área onde o governo apresenta um perfil de esquerda é a da reforma agrária. Ali estão enquistadas as
posições mais anacrônicas, que, se levadas a efeito um dia, produziriam
quebra da produção agrícola e um
sombrio eldorado de estilo católico-medieval, com o Estado no lugar do
barão feudal. Por isso mesmo, é ali que
cresce o potencial de confronto.
Existe quem projete a perspectiva de
que, com a previsível queda de popularidade e o acirramento das contradições em torno do governo, este seja
obrigado a uma mudança de curso.
Acena-se com a possibilidade de uma
guinada à esquerda como solução a
que o governo seria compelido em caso de um impasse grave.
Tais especulações já circularam com
mais insistência e verossimilhança do
que hoje. Começa a ganhar forma o
raciocínio oposto, segundo o qual o
governo, diante de uma situação crítica que possa se configurar no futuro,
seria empurrado ainda mais para a direita, cortando em definitivo os laços
esfrangalhados com a tradição petista.
Na recente ofensiva propagandística, o presidente Lula reafirmou seu
compromisso com a posição centrista
que vem caracterizando seu governo.
Como quase todo político bem-sucedido, ele sempre foi um pragmático,
sem convicções propriamente ideológicas, que dança conforme a valsa.
Mas o deslocamento para a direita se
apóia em razões mais fortes do que
meras frases de político.
O espectro ideológico, no Brasil e no
mundo, só tem se deslocado para a direita. Os mercados exercem um poder
de tutela e chantagem sem precedentes sobre os governos. A geração de
Lula chegou ao poder depois de anos
de ostracismo; adapta-se rapidamente
às rotinas e conveniências de um governo bem-comportado. Mudar para
que e por quê?
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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