São Paulo, sábado, 21 de setembro de 2002

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SEM JUSTIÇA

Elias Pereira da Silva, o vulgo Elias Maluco, foi finalmente preso no Rio de Janeiro depois de um cerco que contou com mil agentes da polícia fluminense. Ele é o principal suspeito de ter assassinado o repórter da TV Globo Tim Lopes. Em seu primeiro depoimento, negou participação no homicídio. Embora se possa criticar o tempo que a polícia demorou para prendê-lo -quase quatro meses em que Pereira da Silva, ao que consta, nunca deixou o complexo do Alemão-, é inegável o mérito do trabalho policial que culminou na sua detenção.
Mas, ao contrário do que possa transparecer no discurso efusivo de algumas autoridades, o Rio de Janeiro não se tornou um lugar "mais tranquilo" depois da prisão de Maluco. A memória da tomada da penitenciária de "segurança máxima" pelo famigerado Fernandinho Beira-Mar -e de seu acerto de contas sangrento com bandidos rivais- ainda está bem viva. Não há confiança nenhuma na capacidade do Estado de manter um chefe de quadrilha preso e impedido de comandar ações criminosas. O jogo de empurra para ver quem fica com Beira-Mar não disfarça o medo das autoridades de ter de arcar com o desgaste que a sua custódia pode representar.
A prisão de Elias Maluco, porém, não desperta apenas os temores acerca do seu encarceramento. Tido como um líder de quadrilha especialmente cruel, Elias Pereira da Silva é, por ora, apenas suspeito de ter cometido um crime grave. A pena por sua primeira condenação já foi cumprida. Ficou quatro anos preso, entre 1996 e 2000, e foi solto porque o sistema judicial, nesse período, não foi capaz de produzir uma sentença para saber se é inocente ou culpado numa acusação de sequestro.
Essa falha do sistema legal em produzir uma resposta pode ter custado a vida não apenas do jornalista Tim Lopes, mas de várias outras pessoas. E esse problema, que denota a precariedade do sistema de provimento de Justiça neste país, não foi, evidentemente, solucionado com a prisão de Elias Maluco.


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