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CLÓVIS ROSSI
A batalha de Miami
SÃO PAULO - A ofensiva norte-americana contra as posições brasileiras
nas negociações comerciais internacionais segue a pleno vapor.
Exemplo 1: o jornal "The Miami
Herald" foi ouvir empresários do
açúcar e dos cítricos, fortes na Flórida, exatamente o Estado em que vai
se dar a próxima Conferência Ministerial da Alca (em Miami).
Frase de Robert Coker, vice-presidente sênior de assuntos públicos da
US Sugar Corp., que tem operações
em ambas as áreas:
"O Brasil sacudiu a jaula. Se continuarem com essa atitude de "nós queremos o seu mercado, mas não damos nada em nosso mercado", será
absolutamente inaceitável".
É uma inversão dos fatos: quem
quer o mercado do Brasil (e do resto
do mundo) são os Estados Unidos,
que se dizem os mais abertos do planeta, mas se negam a fazer concessões nas áreas (fortemente protegidas) de interesse do Brasil.
Exemplo 2: o deputado Phil English
(republicano da Pensilvânia) preside
o recém-criado "Brazil Caucus", grupo informal de parlamentares interessados no país.
Sua avaliação sobre os episódios de
Cancún: "Os EUA mostraram forte
liderança na pressão por comércio
justo, mas outras nações, particularmente a União Européia, o Brasil e
alguns países em desenvolvimento,
bloquearam progressos em temas comerciais fundamentais".
Críticas não são o único problema
para o Brasil. A aliança construída
para Cancún (o G-20 e alguma coisa)
pode se desmanchar para a Alca. No
já citado "The Miami Herald", o colunista Andrés Oppenheimer foi ouvir Jorge Humberto Botero, ministro
do Comércio da Colômbia (país-membro do G-20 e algo).
"Temos estupendas relações com o
Brasil, mas, no âmbito comercial,
nossos interesses são mais profundos
no Norte que no Sul", disse Botero.
Nesse ritmo, Cancún terá sido um
passeio na praia perto do que se desenha como a batalha de Miami.
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