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São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A batalha de Miami

SÃO PAULO - A ofensiva norte-americana contra as posições brasileiras nas negociações comerciais internacionais segue a pleno vapor.
Exemplo 1: o jornal "The Miami Herald" foi ouvir empresários do açúcar e dos cítricos, fortes na Flórida, exatamente o Estado em que vai se dar a próxima Conferência Ministerial da Alca (em Miami).
Frase de Robert Coker, vice-presidente sênior de assuntos públicos da US Sugar Corp., que tem operações em ambas as áreas:
"O Brasil sacudiu a jaula. Se continuarem com essa atitude de "nós queremos o seu mercado, mas não damos nada em nosso mercado", será absolutamente inaceitável".
É uma inversão dos fatos: quem quer o mercado do Brasil (e do resto do mundo) são os Estados Unidos, que se dizem os mais abertos do planeta, mas se negam a fazer concessões nas áreas (fortemente protegidas) de interesse do Brasil.
Exemplo 2: o deputado Phil English (republicano da Pensilvânia) preside o recém-criado "Brazil Caucus", grupo informal de parlamentares interessados no país.
Sua avaliação sobre os episódios de Cancún: "Os EUA mostraram forte liderança na pressão por comércio justo, mas outras nações, particularmente a União Européia, o Brasil e alguns países em desenvolvimento, bloquearam progressos em temas comerciais fundamentais".
Críticas não são o único problema para o Brasil. A aliança construída para Cancún (o G-20 e alguma coisa) pode se desmanchar para a Alca. No já citado "The Miami Herald", o colunista Andrés Oppenheimer foi ouvir Jorge Humberto Botero, ministro do Comércio da Colômbia (país-membro do G-20 e algo).
"Temos estupendas relações com o Brasil, mas, no âmbito comercial, nossos interesses são mais profundos no Norte que no Sul", disse Botero.
Nesse ritmo, Cancún terá sido um passeio na praia perto do que se desenha como a batalha de Miami.



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