|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARCIO AITH
Irrelevância
SÃO PAULO - A saída da embaixadora dos EUA no Brasil, Donna Hrinak,
deve restaurar a habitual irrelevância do país na ordem de prioridades
da política externa americana.
Hrinak não queria deixar o posto
agora, embora diga publicamente o
contrário. Foi "convidada" a devolvê-lo antecipadamente, no começo
de 2004, em razão de uma maneira
heterodoxa de contar o tempo.
O Departamento de Estado calculou sua permanência máxima no
cargo, de três anos, a partir da saída
de seu antecessor (2001), e não do início de sua própria representação em
Brasília (2002).
É um desfecho atípico para uma diplomata com 29 anos de carreira e
uma impressionante experiência na
América Latina, onde serviu na Colômbia, na Bolívia, na Venezuela e
na República Dominicana.
A prevalecer a lógica, a mudança
esfria a relação bilateral. A Casa
Branca propagandeou sua nomeação, dois anos atrás, como sinal de
que o Brasil merece um embaixador
profissional, não um amigo de plantão da Casa Branca.
Agora, o Departamento de Estado
admite que fará uma nomeação "política", provavelmente a de um empresário. Alega que a mudança poderá ser boa para o Brasil, dado o perfil
do presidente dos EUA, "orientado
para os negócios".
Não é tão simples. A viagem de Lula a Cuba e o fosso crescente que separa o Brasil dos EUA nas negociações da Alca encerraram a lua-de-mel entre os dois governos.
Em Washington, comenta-se, de
forma maldosa, que Hrinak passou a
sofrer, no cargo, da síndrome de Estocolmo, definida pela simpatia do sequestrado pelo sequestrador.
Vale a pena ler a próxima edição
da revista "Indústria Brasileira", editada pela CNI e que circula em novembro. Nela, Hrinak defende a liderança do Brasil na América do Sul e,
de forma cuidadosa, admite que nem
todos pensam assim nos EUA.
Texto Anterior: Editoriais: SAÍDA INSTITUCIONAL
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Frio na espinha Índice
|