São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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PÉSSIMA SURPRESA

Uma surpresa negativa. Foi essa a impressão suscitada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ao decidir elevar em meio ponto percentual a taxa de juros básica da economia brasileira em reunião encerrada ontem.
A grande maioria dos analistas econômicos esperava um aumento menor, de 0,25 ponto percentual, com base nas expectativas criadas pelas explicações da autoridade monetária -que, no mês de setembro, ao anunciar a elevação da taxa Selic de 16% para 16,25% ao ano, afirmara estar dando início a um processo moderado de ajuste.
Mesmo uma alta de 0,25, embora prevista, só poderia ser atribuída a um excesso de zelo do Copom. Afinal, nas últimas semanas, os resultados da inflação se revelaram sistematicamente mais baixos do que projetavam os bancos e consultorias. Ao lado disso, a deterioração das expectativas de inflação -um dos fatores invocados pelo Copom em setembro para justificar sua decisão de aumentar os juros básicos- foi interrompida. Por fim, os indicadores relativos ao nível de atividade já passaram a captar alguns sinais de desaceleração da economia.
É certo que, paralelamente, o preço internacional do petróleo atravessou nova rodada de alta, projetando pressões inflacionárias por todo o sistema econômico mundial. Mas esse é um típico choque externo de custos que cabe à política monetária acomodar, visando evitar sacrifício excessivo da produção e do emprego, por meio da admissão de inflação um pouco mais alta.
O aumento mais agressivo da taxa de juros básica só encontra justificativa na preocupação do BC de dar mostras de que perseguirá a todo custo uma inflação de 5,1% em 2005, depois de se ver forçado a descumprir metas que, como esta Folha já alertara, mostravam-se demasiado ambiciosas.
A essa altura, a elevação dos juros não irá comprometer significativamente a expansão do PIB em 2004, mas as expectativas de crescimento para o próximo ano tendem a esfriar, em mais um revés para o setor produtivo imposto pelo governo petista.


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