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Energia nova, mas suja
O LEILÃO de energia nova
realizado pelo governo federal na terça-feira foi
bem recebido no setor. O volume
contratado, 2.312 megawatts
(MW) médios, equivale a 110%
da demanda projetada para
2012. Há pouca chance, assim, de
faltar energia nesse horizonte.
Registraram-se, além disso,
preços considerados baixos, na
média R$ 128,33 por megawatt-hora (MWh). Até uma modalidade de geração tida por cara, usinas termelétricas (UTEs), teve
vendas R$ 10 abaixo do preço-teto inicial do leilão. Isso ocorreu
por efeito da inclusão de uma
usina a gás natural liquefeito,
combustível competitivo que teria forçado termelétricas a carvão e óleo a reduzirem a sua
remuneração.
As boas novas, infelizmente,
param aí. Apenas um alienado do
debate mundial sobre aquecimento global poderia celebrá-las
como resultado inteiramente favorável. Todas as UTEs do leilão
usam combustíveis fósseis, cuja
queima adiciona à atmosfera gases do efeito estufa (que dificultam a dissipação de calor de volta
ao espaço e, com isso, a aquecem). Nada menos que 61% da
energia contratada provirá de
fontes fósseis, e a pior delas (carvão) fica com a maior fatia, 40%
do total leiloado.
Não há nada a comemorar nesse aspecto. A matriz energética
brasileira, que era uma das mais
limpas do mundo por força do
uso intensivo da energia hidrelétrica, está em franca involução
do ponto de vista da produção de
gases do efeito estufa.
O ano de 2012, vale lembrar, é
também aquele em que se extingue o primeiro período do Protocolo de Kyoto. O governo brasileiro deveria mostrar-se mais
preocupado com o clima global e
com a perspectiva de ter de adotar metas obrigatórias de redução de emissões -como, de resto, todos os países.
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