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Reações
Enfraquecimento de Obama, medidas anunciadas pelo Reino Unido e protestos na França expõem custo político do combate à crise econômica
Enquanto propostas de reforma
das regras da Previdência provocam reações e tumultos na França, o Reino Unido anuncia um pesado ajuste de suas finanças governamentais. O ministro das Finanças George Osborne apresentou ao Parlamento proposta de
corte de 83 bilhões (cerca de R$
221 bilhões) nas despesas públicas
até 2015. O PIB do ano passado foi
de 1,44 tri.
As medidas, de caráter contracionista, devem acarretar a eliminação de 490 mil vagas do funcionalismo. Também estão previstos
aumentos de impostos e a elevação da idade de aposentadoria de
65 para 66 anos, a partir de 2020. A
intenção da aliança liberal-conservadora, no poder desde maio, é
diminuir para cerca de 2% do PIB,
até 2015, o deficit público, no momento em torno de 10%.
Numa política substancialmente diversa daquela adotada pelos
EUA no período pós-crise, o governo britânico dá mostras de que em
sua avaliação uma drástica redução de despesas, com vistas a evitar a "bancarrota", como disse Osborne, seria fundamental para
restaurar a confiança e permitir a
retomada do crescimento. Nas palavras do ministro, trata-se de optar por um futuro melhor.
Já o governo norte-americano
mostra-se menos preocupado
com seu deficit e não tem adotado
medidas de enxugamento de despesas. Até aqui os EUA têm concentrado seus esforços em políticas monetárias expansionistas,
na expectativa de que elas produzam efeitos benéficos para as empresas e as exportações.
Em relação à França, não há
comparação, em termos de extensão, profundidade e impactos, entre os cortes propostos pelo Reino
Unido e as medidas enviadas ao
Parlamento pelo presidente Nicolas Sarkozy. As cenas de confronto
nas cidades francesas, que lembram o Maio de 68, são provocadas por uma simples, sensata e indispensável correção: passar de
60 para 62 anos e de 65 para 67 as
idades mínimas para aposentadorias parcial e integral.
As diretrizes propostas pelos
governos da França e do Reino
Unido se inscrevem no quadro de
reação à crise global que, na Europa, teve consequências ainda
mais graves em países nos quais
era grande o endividamento de
empresas, famílias e governos.
Embora os movimentos sindicais tenham perdido força, observadores da política britânica não
afastam a possibilidade de manifestações de protesto, na tentativa
de repetir as batalhas sindicais da
década de 1980, durante o governo de Margaret Thatcher. Saliente-se, como observou a revista
"The Economist", que os cortes
agora anunciados vão além do
que os propostos pela primeira-ministra em seu mandato.
Se nos EUA o presidente Barack
Obama perde popularidade, entre
outras razões, por ser considerado
"estatista" em sua maneira de enfrentar os problemas da economia, na Europa, governos conservadores podem se desgastar por
fazer o que deles se esperaria
-cortes em despesas e benefícios
sociais. É a crise econômica que se
transforma em crise política.
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