São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2010

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Reações

Enfraquecimento de Obama, medidas anunciadas pelo Reino Unido e protestos na França expõem custo político do combate à crise econômica

Enquanto propostas de reforma das regras da Previdência provocam reações e tumultos na França, o Reino Unido anuncia um pesado ajuste de suas finanças governamentais. O ministro das Finanças George Osborne apresentou ao Parlamento proposta de corte de 83 bilhões (cerca de R$ 221 bilhões) nas despesas públicas até 2015. O PIB do ano passado foi de 1,44 tri.
As medidas, de caráter contracionista, devem acarretar a eliminação de 490 mil vagas do funcionalismo. Também estão previstos aumentos de impostos e a elevação da idade de aposentadoria de 65 para 66 anos, a partir de 2020. A intenção da aliança liberal-conservadora, no poder desde maio, é diminuir para cerca de 2% do PIB, até 2015, o deficit público, no momento em torno de 10%.
Numa política substancialmente diversa daquela adotada pelos EUA no período pós-crise, o governo britânico dá mostras de que em sua avaliação uma drástica redução de despesas, com vistas a evitar a "bancarrota", como disse Osborne, seria fundamental para restaurar a confiança e permitir a retomada do crescimento. Nas palavras do ministro, trata-se de optar por um futuro melhor.
Já o governo norte-americano mostra-se menos preocupado com seu deficit e não tem adotado medidas de enxugamento de despesas. Até aqui os EUA têm concentrado seus esforços em políticas monetárias expansionistas, na expectativa de que elas produzam efeitos benéficos para as empresas e as exportações.
Em relação à França, não há comparação, em termos de extensão, profundidade e impactos, entre os cortes propostos pelo Reino Unido e as medidas enviadas ao Parlamento pelo presidente Nicolas Sarkozy. As cenas de confronto nas cidades francesas, que lembram o Maio de 68, são provocadas por uma simples, sensata e indispensável correção: passar de 60 para 62 anos e de 65 para 67 as idades mínimas para aposentadorias parcial e integral.
As diretrizes propostas pelos governos da França e do Reino Unido se inscrevem no quadro de reação à crise global que, na Europa, teve consequências ainda mais graves em países nos quais era grande o endividamento de empresas, famílias e governos.
Embora os movimentos sindicais tenham perdido força, observadores da política britânica não afastam a possibilidade de manifestações de protesto, na tentativa de repetir as batalhas sindicais da década de 1980, durante o governo de Margaret Thatcher. Saliente-se, como observou a revista "The Economist", que os cortes agora anunciados vão além do que os propostos pela primeira-ministra em seu mandato.
Se nos EUA o presidente Barack Obama perde popularidade, entre outras razões, por ser considerado "estatista" em sua maneira de enfrentar os problemas da economia, na Europa, governos conservadores podem se desgastar por fazer o que deles se esperaria -cortes em despesas e benefícios sociais. É a crise econômica que se transforma em crise política.


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