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Autocrata em formação
CONSUMOU-SE o golpe que o
presidente da Bolívia, Evo
Morales, vinha ensaiando
contra a Assembléia Constituinte e contra as frágeis instituições
do país. É cada vez mais indisfarçável o autoritarismo do novo dirigente boliviano, que, seguindo
Hugo Chávez, já nem hesita em
propor medidas escandalosamente antidemocráticas.
Na sexta, a Assembléia definiu
que a maioria para promulgar a
nova Constituição é de 50% dos
votos mais um. Tal decisão torna
letra morta a Lei da Convocatória, que fixava maioria de mais de
dois terços. Com base nessa lei os
bolivianos foram às urnas e elegeram seus constituintes.
O golpe veio porque Morales e
seu MAS (Movimento ao Socialismo) só foram capazes de eleger 52,5% dos constituintes. Para tentar justificar a atitude,
acorrem ao realismo fantástico:
como a Assembléia é poder originário, tem legitimidade para mudar a norma que a convocou.
A agenda de Morales para aniquilar adversários e instituições
agrega, ainda, uma proposta de
lei dando ao Congresso, dominado pelo MAS, o poder de cassar
governadores. Seis dos nove chefes locais são oposicionistas.
O presidente da Bolívia também reinterpretou a seu favor o
referendo sobre autonomia. Na
consulta à população, em julho,
ficou claro que os resultados em
cada um dos departamentos (Estados) seriam considerados em
separado. Após o pleito por mais
autonomia triunfar em quatro
dos mais ricos departamentos,
Morales passou a dizer que o referendo era nacional.
O vezo autoritário do dirigente
na política contrasta com suas
atitudes cada vez mais brandas
na economia. Morales parece estar convencido de que a receita
para perpetuar-se no poder passa por dividir o país, dizimar a
oposição e entender-se com as
multinacionais que, para o público interno, finge combater.
Dessa forja costumam surgir
ditaduras.
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