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DILEMA NO IRAQUE
A cada dia fica mais clara a sensação de que os EUA vão se tornando vítimas da armadilha que armaram no Iraque. A violência não dá
sinais de arrefecimento, apesar de
ofensivas militares de envergadura,
como a lançada por forças conjuntas
norte-americanas e iraquianas contra o bastião rebelde de Fallujah no
mês passado. A seis semanas do
pleito legislativo, atentados continuam conturbando o país.
Meses atrás, havia quem acreditasse que as eleições seriam o ponto de
inflexão a partir do qual a situação se
estabilizaria. Os representantes eleitos redigiriam uma Constituição que
lançaria as bases de um Iraque democrático. A criação de instituições
democráticas não só abriria perspectivas para a retirada das forças norte-americanas como repercutiria por
todo o Oriente Médio, contribuindo
para tornar a região menos instável.
Hoje, poucos apostariam nessa hipótese. Há dúvidas até mesmo quanto à possibilidade de realizar eleições
em janeiro. Embora os EUA insistam
em manter o cronograma, a violência promete cercar o pleito.
Paralelamente, vai aumentando o
isolamento dos EUA na ocupação.
Dos países que apoiaram a invasão
com tropas, alguns, como Espanha,
Filipinas, El Salvador, Honduras e
República Dominicana, já retiraram
seus soldados; outros, como a Polônia, estão reduzindo sua presença.
Nesse quadro, Washington não
tem muitas opções. A hipótese de retirada parece cada vez mais longínqua. Os riscos de uma ação como essa incluem o surgimento de um governo radical anti-EUA, nos moldes
do Irã, e uma eventual fragmentação
do país, com delicadas repercussões
geopolíticas. Com a reeleição do presidente George W. Bush, o mais provável é que se assista a uma duradoura ocupação marcada por conflitos.
Os invasores vivem um dilema: não
podem abandonar o Iraque sob o risco de conturbar ainda mais o Oriente
Médio. Sua permanência, no entanto, tende a perpetuar um cenário de
persistente insatisfação e violência.
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