São Paulo, terça-feira, 21 de dezembro de 2004

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DILEMA NO IRAQUE

A cada dia fica mais clara a sensação de que os EUA vão se tornando vítimas da armadilha que armaram no Iraque. A violência não dá sinais de arrefecimento, apesar de ofensivas militares de envergadura, como a lançada por forças conjuntas norte-americanas e iraquianas contra o bastião rebelde de Fallujah no mês passado. A seis semanas do pleito legislativo, atentados continuam conturbando o país.
Meses atrás, havia quem acreditasse que as eleições seriam o ponto de inflexão a partir do qual a situação se estabilizaria. Os representantes eleitos redigiriam uma Constituição que lançaria as bases de um Iraque democrático. A criação de instituições democráticas não só abriria perspectivas para a retirada das forças norte-americanas como repercutiria por todo o Oriente Médio, contribuindo para tornar a região menos instável.
Hoje, poucos apostariam nessa hipótese. Há dúvidas até mesmo quanto à possibilidade de realizar eleições em janeiro. Embora os EUA insistam em manter o cronograma, a violência promete cercar o pleito.
Paralelamente, vai aumentando o isolamento dos EUA na ocupação. Dos países que apoiaram a invasão com tropas, alguns, como Espanha, Filipinas, El Salvador, Honduras e República Dominicana, já retiraram seus soldados; outros, como a Polônia, estão reduzindo sua presença.
Nesse quadro, Washington não tem muitas opções. A hipótese de retirada parece cada vez mais longínqua. Os riscos de uma ação como essa incluem o surgimento de um governo radical anti-EUA, nos moldes do Irã, e uma eventual fragmentação do país, com delicadas repercussões geopolíticas. Com a reeleição do presidente George W. Bush, o mais provável é que se assista a uma duradoura ocupação marcada por conflitos.
Os invasores vivem um dilema: não podem abandonar o Iraque sob o risco de conturbar ainda mais o Oriente Médio. Sua permanência, no entanto, tende a perpetuar um cenário de persistente insatisfação e violência.


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