São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009 |
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Editoriais editoriais@uol.com.br O partido dos eleitos
AUMENTA a probabilidade, após o Datafolha publicado ontem, de uma disputa polarizada entre os nomes de José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) na corrida pela sucessão presidencial do ano que vem. A candidata governista atinge 23% e se isola na segunda colocação, beneficiada seja pela máquina de propaganda governista, seja pela saída de Heloísa Helena (PSOL) da disputa. À frente na preferência do eleitorado, Serra -que manteve os 37% da pesquisa anterior- se vê, pela segunda vez nesta semana, confrontado com uma indesejada aceleração do cronograma eleitoral. Sua condição de postulante à Presidência parece cair-lhe de forma um tanto enviesada. Enquanto a propaganda oficial bombardeia os meios de comunicação com as obras do governo paulista, José Serra continua aparentando um compasso de espera -mesmo depois de seu rival no PSDB, Aécio Neves, ter anunciado desistir da pré-candidatura à Presidência. Essa situação ambígua, que combina elementos de penumbra e de comédia, não poderia ser mais típica do modo tucano de fazer política. Há quase dois anos, o governador de Minas começou a defender a realização de prévias no PSDB. Resistindo à ideia, Serra apostava num acordo de cúpula antes da eleição. O acordo de cúpula não houve; as prévias, tampouco. O partido decidiu não decidir -e desse modo Aécio se viu na insólita condição de um pré-candidato à procura do rival que não se mostra, para um confronto com data marcada para não acontecer. Eis que lança uma cartada: desiste da pré-candidatura, permitindo que a decisão não tomada se tomasse por si mesma. E nem mesmo assim algo aconteceu. O PSDB continua imóvel, e Serra não se lança candidato. O resultado, feitas as contas, é nenhum. Continua-se a especular, como antes, se Aécio será vice de Serra, enquanto o cálculo milimétrico das pesquisas pode levar o tucano número 1 a abandonar uma candidatura que não houve em favor do tucano número 2, que desistirá da desistência. As dificuldades de definir uma candidatura refletem uma carência mais profunda, a saber, o embaraço da oposição para enfrentar um governo cujo presidente é aprovado por cerca de 70% da população. Não se vê, nas manifestações de seus desconcertados dirigentes, um discurso capaz de mobilizar e empolgar. O raciocínio de Serra parece ser o de poupar-se ao desgaste que todo líder nas pesquisas sofre quando se lança à campanha eleitoral. Tenta ganhar tempo, além disso, para decidir se de fato será candidato. Questão de tática, por certo. Mas há um ponto em que a tática e a política se separam; da primeira cuidam os marqueteiros, da segunda as lideranças dignas desse nome. Em seu sentido mais alto, a política pressupõe o enfrentamento público de opções reais, seja para ganhar, seja para perder. Não se confunde com o mero amealhar de pontos numa pesquisa -muito menos com o jogo de bastidores, feito de subentendidos, farpas e costuras entre três ou quatro cardeais, com que o PSDB, julgando-se como sempre o partido dos eleitos, entretém sua própria presunção. Próximo Texto: Editoriais: Luz para a baixa renda Índice |
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