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RUY CASTRO
Rua do vice-rei
RIO DE JANEIRO - A construção
de um centro empresarial com quatro edifícios de 23 andares, 22 metros de profundidade de escavação,
seis níveis de subsolo e 187 mil metros quadrados de área total provocou rachaduras, abalos ou inclinações em 20 prédios da vizinha rua
dos Inválidos, que liga a praça da
República à rua do Riachuelo, não
muito distante da Lapa. Cerca de
200 moradores foram desalojados
pela Defesa Civil.
Quase todos esses prédios são
tombados, preservados ou tutelados, o que fala por seu valor histórico ou cultural. Um deles, a igreja de
Santo Antonio dos Pobres, de 1811,
era frequentada por d. João 6º e os
jovens príncipes. O trecho faz parte
do Corredor Cultural, uma extensa
área de preservação arquitetônica
instituída pela prefeitura carioca há
quase 30 anos. Tudo indica que a
obra do centro empresarial, destinado à Petrobras, seja responsável
pelo estrago.
A construtora alega que estava
monitorando o impacto sobre o entorno. Ótimo. Mas seria o bastante?
O Rio não é apenas um fenômeno
natural, mas também uma admirável obra da engenharia -boa parte
de seu centro foi construída há mais
de 200 anos, sobre aterros que engoliram pântanos ou mandaram o
mar para longe.
A rua dos Inválidos, por exemplo,
é típica do velho Rio. Foi aberta em
1791, pelo vice-rei Conde de Resende, sobre um terreno alagadiço.
Donde, por ali, qualquer avaliação
para fins de construção precisa levar em conta, além da geografia, a
história. É tudo muito delicado.
Nos anos de 1950 a 1970, ditos
"dourados", as retroescavadeiras fizeram a festa contra o patrimônio
da cidade. Hoje há mais consciência
sobre isso. Não se trata de deter o
progresso, mas, se a ideia é "revitalizar" o centro histórico do Rio, é
preciso que continue a haver uma
história para revitalizar.
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