São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2004

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Brasil: chega de cassinos!

Vira e mexe, defrontamo-nos com a questão do jogo. Sei que o tema é polêmico. Há quem o defenda como se fosse um grande gerador de empregos. Não compartilho dessa idéia.
Dentro de minhas limitações, tenho pesquisado o assunto. Os dados que coletei convenceram-me de que o jogo nunca vem sozinho; ele é sempre acompanhado de criminalidade, de droga, de alcoolismo, de prostituição e de corrupção.
Veja o escândalo da última semana. Por meio dele, o Brasil tomou conhecimento de uma verdadeira invasão de máquinas caça-níqueis e salões de bingos, que, para existirem e se multiplicarem, entram de peito aberto no campo da corrupção, reafirmando a íntima relação que existe, com honrosas exceções, entre agenciadores do jogo e agenciadores da política.
O jogo gera graves problemas sociais, contra os quais as comunidades têm de gastar vultosos recursos nos campos da saúde, da polícia e da justiça. Além disso, o jogo é injusto. A proporção da renda gasta pelos mais pobres é muito mais alta do que a dos ricos. Os jogadores mais assíduos e imprudentes são os de menor renda.
Fico preocupado ao saber que o governo estaria pronto para legalizar os bingos e os caça-níqueis -ao lado de tanto jogo que já está legalizado (raspadinhas, loteria esportiva, loto, sena, concursos de TV e tantos outros). Além deles, há os carteados, os jogos de azar ilegais, os cassinos clandestinos, que se multiplicam à luz do dia. Estão aí também o caso do jogo do bicho e o das roletas.
O Brasil está se transformando no paraíso do jogo. Se o governo e os parlamentares de Brasília estão realmente interessados em criar postos de trabalho, conviria a eles considerarem alternativas que tenham efeitos secundários menores do que os do jogo. Refiro-me à expansão da agricultura, do comércio, da indústria, da educação, da saúde e de tantos outros serviços que abrem postos de trabalho sem criar problemas de segunda geração.
Refiro-me ainda àquela reforma tributária que não foi feita e que visava aliviar a carga, e não aumentá-la. Refiro-me, finalmente, às reformas previdenciária e trabalhista, que têm de ser concluídas.
Isso, sim, pode gerar empregos -e empregos sadios-, e não a jogatina. O jogo não escolhe vítimas. Quem dele se aproxima, é atingido em cheio, ora perdendo seus recursos, ora destruindo os costumes e seus valores éticos e morais e gerando uma imensidão de problemas de difícil e dispendiosa solução.
O jogo é de grande utilidade para enriquecer seus patrocinadores -e só isso, nada mais do que isso. Oxalá os senhores governantes levem em conta tais princípios para implantar no Brasil uma grande campanha de combate ao jogo, e não de apoio a ele.
O Brasil precisa de mais produção e de menos cassinos!


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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