São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2004

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NO RITMO DA CRISE

No afã de contornar a crise política que eclodiu com a divulgação do escândalo Waldomiro Diniz, o governo entregou-se a um ativismo tão vistoso quanto superficial. O presidente viaja de uma capital a outra, faz discursos e anuncia projetos na tentativa de mostrar que sua rotina não foi alterada.
Não é essa, contudo, a realidade. Passados os momentos mais agudos das dificuldades políticas, os problemas ainda estão longe de ser equacionados. Se antes do caso o governo já não primava pela articulação e objetividade, depois dele o quadro, quanto a isso, apenas se deteriorou.
Não bastassem os custos dos acordos para abafar CPIs e contornar novas turbulências, ministros queixam-se da paralisia governamental e pedem verbas, enquanto aliados atacam a política econômica.
O enfraquecimento do ministro José Dirceu é patente, como são claras as conseqüências negativas de seu desgaste para a administração. Como o Planalto, no entanto, decidiu-se por preservá-lo, o titular da Casa Civil terá a árdua missão de, chamuscado por um escândalo, recobrar a iniciativa. Dirceu estaria organizando uma "agenda de emergência". Com ela, tentaria mapear problemas imediatos dos ministérios, liberar recursos e acalmar os ânimos. Talvez consiga uma trégua no "fogo amigo", mas até quando? E até quando o país poderá continuar a ser administrado no varejo, ao sabor de pressões e interesses imediatos?
Não há nenhuma dúvida de que a crise política deixará seqüelas. Cabe ao governo preparar-se para conviver com elas. Não basta dar impressão de que se está governando, é preciso que os resultados apareçam. Por mais que o presidente procure explorar sua conhecida capacidade de comunicação, é improvável que preserve a mesma popularidade. E a conta dos apoios será cobrada.
As perspectivas tornam-se mais difíceis quando se sabe que muitos dos compromissos assumidos em campanha dependem dos resultados econômicos -e o tempo da economia não é o mesmo do da política.


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