São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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RISCO SISTÊMICO

A desistência do conglomerado francês Crédit Agricole de operar na Argentina redespertou nos agentes econômicos e políticos o temor de uma crise sistêmica no setor financeiro do país. No pior cenário, a quebra dos três bancos administrados pelos franceses levaria de roldão outras instituições, provocando a implosão do sistema bancário, com consequências sociais e políticas potencialmente catastróficas.
A equação que as autoridades argentinas tentam resolver é das mais complexas. A Presidência de Eduardo Duhalde, que nasceu sob o signo da fragilidade política, tem de lidar com a espinhosa questão da liberação dos recursos retidos no "corralito". O tema tem provocado atritos no primeiro escalão do governo. O bloqueio de depósitos instituído no último fôlego de Domingo Cavallo dificulta a corrida bancária e a pressão cambial. Por outro lado, mantém a economia asfixiada pela falta de moeda em circulação.
Propõe-se que os recursos retidos no "corralito" sejam trocados por bônus que poderiam ser comprados e vendidos no mercado secundário. A circulação dos títulos poderia proporcionar algum fôlego à economia. Porém a medida explicitaria para os correntistas a depreciação real de seus ativos. Um bônus de 100 pesos, num exemplo meramente hipotético, seria vendido por 35 no mercado.
A constatação repentina do empobrecimento de parte influente da população argentina poderia gerar uma nova onda de revolta contra Eduardo Duhalde, ameaçando sua permanência no cargo. Mas a continuidade do quadro de depressão econômica -que desemprega e empobrece em massa e que erode as finanças públicas- representaria um risco de convulsão social ainda maior.
Todas as opções que restam a Duhalde são impopulares, arriscadas e socialmente dolorosas. E a cada dia fica mais claro que os argentinos terão de encontrar a saída para os seus graves problemas por suas próprias e enfraquecidas pernas, sem contar com ajuda significativa dos organismos internacionais.


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