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CLÓVIS ROSSI
O preço da covardia
SÃO PAULO - É muito difícil entender a racionalidade por trás da decisão do Banco Central de manter as
taxas de juros no insuportável patamar em que estão.
Espero que não seja verdadeira a
hipótese de que o BC resolveu dar
uma de machão e demonstrar que
não se curva a pressões, um raciocínio posto a circular desde o fim de semana por agentes de mercado (sempre eles) e que fica em algum ponto
do caminho entre a indigência e a
mistificação.
Todo banco central do planeta, inclusive o norte-americano, o Fed, sofre pressões. Só os mistificadores argumentam que há BCs totalmente
independentes, que agem como se
fossem instituições de outra galáxia.
O BC brasileiro não teria razão nenhuma para provar que está acima
de qualquer pressão. Não se trata de
ser macho, mas de ser competente. E
o vice-presidente da República, José
Alencar, já pôs em dúvida essa competência ao dizer outro dia que manter os juros como estão é jogar pelo
ralo R$ 80 bilhões.
Tomara que a razão verdadeira
para não mexer nos juros tenha sido
excesso de cautela. É condenável, nas
presentes circunstâncias, mas não é
um completo absurdo.
De todo modo, é difícil escapar da
constatação de que, mais uma vez,
como vem sendo a norma desde que
o novo governo tomou posse, o medo
venceu a esperança.
Medo de que, exatamente, é difícil
dizer. O presidente do BC sabe que a
inflação é influenciada por três componentes -dólar, preços administrados e preços livres-, só o último dos
quais pode ser de fato domado, eventualmente, pelos juros altos.
Sacrificar o já anêmico crescimento
em nome de uma eventual influência
sobre um pedaço da inflação é de
uma covardia inominável.
Não por acaso, o desemprego subiu,
em abril, pelo quarto mês consecutivo, ou seja, por todos os meses do governo Lula. Se ousadia tem preço, covardia também tem.
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