São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A reforma para crescer
ROBERTO NICOLSKY
É hora de induzir a indústria nacional a fazer P&D, dando-lhe, pelo menos, acesso direto aos recursos confiscados da indústria em nome do desenvolvimento tecnológico, que constituem os fundos setoriais. E, além disso, proporcionar parceria com o Estado no risco da P&D, como fazem os países que mais crescem. A OMC admite essa parceria até 75% do dispêndio em P&D. Nós já o fizemos com empresas que eram ou são estatais, como Petrobras, Embraer, CSN etc. Hoje todas essas estatais ou privatizadas são "players" internacionais, porque desenvolveram a sua tecnologia. Mas, quando se trata de empresas não-estatais, há preconceito com parcerias. Esquece-se que nos dariam um crescimento sustentado, pois o Estado e a sociedade são o seu maior beneficiário. Para a Petrobras, cada R$ 1 aplicado em P&D rende R$ 7 por ano, após cinco anos. Na empresa não-estatal análoga, se admitirmos o estímulo que a OMC permite, teríamos que cada R$ 0,75 do Estado mais R$ 0,25 da empresa, por cinco anos, dariam uma receita de R$ 7 anuais. Disso, o Estado teria R$ 2,33 (um terço) em tributos anuais, o que faz o seu dispêndio retornar em um ano e meio -uma taxa excepcional. A empresa teria por retorno o lucro líquido sobre receita, que, estimado em 5%, seria de R$ 0,35 ao ano, dando uma recuperação em quatro anos -uma boa taxa. A sociedade seria a maior beneficiária pela remuneração de ativos, insumos e salários. Sem o estímulo estatal, o retorno para a empresa passaria a 14 anos, prazo que não justifica o risco de P&D próprios, recomendando o licenciamento. Perdem o Estado e a sociedade. Ganham os países desenvolvidos, que nos vendem as inovações. Esse é o nosso quadro industrial, com as exceções conhecidas: Petrobras, Embraer, Weg etc. É difícil listar cem empresas como essas, enquanto na Coréia já são cerca de 10 mil. A reforma para crescer e assegurar inclusão social é a mais difícil, pois não depende de lei, mas de cultura. É a reforma da atitude, sem preconceito contra a empresa, não vendo-a apenas como fonte de tributos e "colaborações financeiras", mas como parceira cujo crescimento faz o avanço da sociedade, com emprego e renda. É claro que há donos de empresas que justificam a rejeição, mas, felizmente, a gestão empresarial é cada vez mais profissional. Outro preconceito é com relação à tecnologia, que é vista como um tema de universidades. Tecnologia é o produto e o modo de produzir. "Tecnologia" de laboratório é, de fato, conhecimento. Tecnologia é assunto de produtores, que a inovam para atender aos consumidores. Essa nossa cultura é ibero-latina e, por isso, nenhum desses países é forte gerador de tecnologia. O papel da universidade é outro. A universidade forma recursos humanos que vão fazer P&D nas empresas. Para isso, a universidade cria conhecimento e pesquisa aplicações, pois esse é o método que vai ensinar aos jovens como inovar produtos e processos nas empresas. Nos países que fazem tecnologia, as empresas empregam 70% ou mais dos pesquisadores. Mais ainda, a universidade deve pesquisar inovações tecnológicas em programas conduzidos por empresas, que são o agente econômico mais capacitado para atender ao consumidor e ao mercado. Muitas universidades já fazem, e bem, essas parcerias. Essa reforma deve ser missão de governo, pois inovação tecnológica deve ser meta de todos os órgãos que lidam com a produção. Deve ser o eixo do planejamento estratégico, pois nenhum país de industrialização tardia alcançou a autonomia tecnológica sem forte atuação indutora do Estado, através da parceria com as empresas. Sem a reforma cultural da inovação tecnológica, não cresceremos a taxas que promovam a inclusão social, não teremos competitividade para agregar valor à exportação e ainda menos para enfrentar os elevados riscos da implantação da Alca. Roberto Nicolsky, 65, físico, é professor da UFRJ e diretor-geral da Protec (Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Viviane Senna: Empresários pelo desenvolvimento humano Índice |
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