São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Padre Pio da Pietrelcina

Eis um novo santo cujo processo de canonização caminhou com surpreendente rapidez. Padre Pio faleceu em 23/9/1968, em San Giovanni Rotondo, aos 82 anos. Durante sete anos, foram interrogadas 73 testemunhas, cuja documentação forma 104 volumes. Em 18/12/97, a Congregação das Causas dos Santos reconheceu suas virtudes praticadas em grau heróico. No ano seguinte, o promotor da fé e seis consultores teológicos deram parecer positivo ao primeiro milagre alcançado por intercessão de Padre Pio. Tratava-se de cura, cientificamente inexplicável, da senhora Consiglia De Martino. Por decreto do Papa João Paulo 2º, Padre Pio foi beatificado em 2/5/1999. Apenas três anos depois, na semana passada, em 16/6, ei-lo solenemente inserido no cânon dos santos.
Que há de especial na vida desse humilde religioso, cuja santidade acaba de ser proposta à veneração do mundo inteiro?
Nasceu em Pietrelcina Benevento, na Itália, em 25/5/1887, filho do agricultor Onezio Forgione e de Giuseppa de Nunzio. Foi batizado com o nome de Francisco. Desde cedo, sentiu-se atraído a consagrar-se a Deus e, aos 16 anos, foi admitido no Convento dos Capuchinhos em Moricone, recebendo o nome Frei Pio. Sua saúde era frágil, o que várias vezes o obrigou a interromper os estudos. Com 23 anos recebeu a ordenação sacerdotal. Seis anos depois, ficou responsável pelo seminário Seráfico em San Giovanni Rotondo.
Religioso exemplar, manso e atencioso com todos, dedicou-se intensamente à oração. Tornou-se muito conhecido e procurado para a direção espiritual. Sua vida, comparável à dos grandes místicos, ficou marcada pela insigne graça dos estigmas de Cristo e pela prova das incompreensões de pessoas que muito o fizeram sofrer. Diante das acusações, o Santo Ofício decidiu restringir o exercício do ministério sacerdotal de Padre Pio, que passou a celebrar na capela interior do convento apenas com um assistente. O religioso aceitou a decisão com humildade e, durante três anos, viveu isoladamente. Liberado pelo Santo Ofício, voltou Padre Pio a um incansável apostolado como confessor experimentado. Fundou a Casa "Sollievo della sofferenza" para atendimento a necessitados e a enfermos e desenvolveu numerosos "grupos de oração" com grande fruto espiritual.
Seus sofrimentos não haviam terminado. Queixas decorrentes do fanatismo de algumas pessoas que vinham vê-lo levaram os superiores a novas restrições.
O Papa Paulo 6º, no entanto, interveio, concedendo-lhe completa liberdade para o exercício de seu ministério.
Esse homem de Deus atraiu pela santidade de vida a confiança e a veneração de milhares de peregrinos do mundo inteiro, que vinham de longe para ouvi-lo, para receber o perdão dos pecados e para participar da Eucaristia, que ele celebrava com comovente piedade.
Padre Pio não percorreu o mundo, não fez obras vistosas. Viveu no escondimento com amor e com fidelidade a sua entrega total a Jesus Cristo. Passou pela "noite escura" do espírito na experiência do abandono interior. Em união com Cristo e com Maria, oferecia seus padecimentos pela salvação do próximo, procurando reparar as ofensas contra Deus.
Num mundo conturbado e vazio de sentido, seu testemunho é um forte apelo à santidade e à esperança. A vida de Padre Pio nos ajuda a redescobrir a prioridade absoluta de Deus, a beleza de sua misericórdia e o amor ao próximo na ânsia de que a redenção de Cristo se estenda a todos.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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