UOL




São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

Próximo Texto | Índice

O PAPEL DOS BANCOS

A diminuta redução da taxa básica de juros anunciada pelo Banco Central em nada mudou o quadro econômico. Talvez a decisão tenha propiciado algum alívio político para o governo e atuado para tornar as expectativas um pouco menos sombrias -meio ponto percentual menos sombrias, poder-se-ia dizer, com alguma ironia, em consonância com a nova taxa.
O fundamental, porém, permanece intocado: a economia vai mal, o BC continua emitindo sinais de excessivo conservadorismo, a taxa básica real (descontada a inflação) segue em alta e os valores praticados no "balcão" aos tomadores de empréstimos estão nos mesmos níveis, elevadíssimos, em que se encontravam antes da reunião do Copom.
Nesse contexto, continua em pauta o tema dos "spreads", ou seja, da diferença entre as taxas pelas quais os bancos captam e aquelas que cobram nas linhas de crédito. Também aqui, essencialmente, nada mudou. A margem líquida dos bancos brasileiros está em patamares de 35%, contra 4,1% nos Estados Unidos.
Da parte das instituições financeiras, os argumentos que justificam os altos "spreads" permanecem: os riscos da inadimplência e das falências, a cunha fiscal e o aperto causado pelo nível dos depósitos compulsórios.
Dois importantes estudos, recentemente divulgados, tratam da questão. Num deles, produzido pela área de assuntos internacionais do Tesouro Americano, constata-se que no Brasil o "crédito permanece proibitivamente caro para a maioria das pequenas e médias empresas e mesmo para as grandes companhias". Uma das conclusões é que a "intermediação financeira doméstica não tem desempenhado o papel que deveria no financiamento do investimento e do crescimento".
Na mesma direção vai o segundo documento, este do Fundo Monetário Internacional, divulgado pela Folha na quarta-feira: "A imagem que emerge do Brasil" -diz o texto do Fundo- "é de um sistema financeiro onde o papel tradicional do banco como intermediário de poupanças, coletando depósitos para estender o crédito, não predomina". O motivo é conhecido. As instituições financeiras encontram oportunidades mais seguras e rentáveis para obter ganhos no mercado: "Investem em títulos como forma principal de negócio", observa o texto.
Segundo o documento, embora os bancos brasileiros tenham um percentual de ativos totais em relação ao PIB muito próximo do norte-americano (77,1% contra 77,3%), a fatia destinada ao crédito é proporcionalmente muito menor. Enquanto nos Estados Unidos ela equivale a 45,3% do PIB, no Brasil é de apenas 24,8%.
O estudo do FMI vai além e toca num tema tabu: afirma que existem evidências "empíricas" de que "os bancos brasileiros se comportam de forma oligopolista".
É indispensável que a economia brasileira conte com um sistema financeiro saudável e robusto. Isso está tão fora de questão quanto a necessidade de que esse sistema venha a desempenhar, de forma competitiva, o papel que, enfaticamente, a economia e o país precisam: o de oferecer crédito a taxas compatíveis a empresas e consumidores para dinamizar o crescimento econômico.


Próximo Texto: Editoriais: PATRIMÔNIO DILAPIDADO

Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.