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O PAPEL DOS BANCOS
A diminuta redução da taxa
básica de juros anunciada pelo
Banco Central em nada mudou o
quadro econômico. Talvez a decisão
tenha propiciado algum alívio político para o governo e atuado para tornar as expectativas um pouco menos
sombrias -meio ponto percentual
menos sombrias, poder-se-ia dizer,
com alguma ironia, em consonância
com a nova taxa.
O fundamental, porém, permanece intocado: a economia vai mal, o
BC continua emitindo sinais de excessivo conservadorismo, a taxa básica real (descontada a inflação) segue em alta e os valores praticados
no "balcão" aos tomadores de empréstimos estão nos mesmos níveis,
elevadíssimos, em que se encontravam antes da reunião do Copom.
Nesse contexto, continua em pauta
o tema dos "spreads", ou seja, da diferença entre as taxas pelas quais os
bancos captam e aquelas que cobram nas linhas de crédito. Também
aqui, essencialmente, nada mudou.
A margem líquida dos bancos brasileiros está em patamares de 35%,
contra 4,1% nos Estados Unidos.
Da parte das instituições financeiras, os argumentos que justificam os
altos "spreads" permanecem: os riscos da inadimplência e das falências,
a cunha fiscal e o aperto causado pelo nível dos depósitos compulsórios.
Dois importantes estudos, recentemente divulgados, tratam da questão. Num deles, produzido pela área
de assuntos internacionais do Tesouro Americano, constata-se que
no Brasil o "crédito permanece proibitivamente caro para a maioria das
pequenas e médias empresas e mesmo para as grandes companhias".
Uma das conclusões é que a "intermediação financeira doméstica não
tem desempenhado o papel que deveria no financiamento do investimento e do crescimento".
Na mesma direção vai o segundo
documento, este do Fundo Monetário Internacional, divulgado pela Folha na quarta-feira: "A imagem que
emerge do Brasil" -diz o texto do
Fundo- "é de um sistema financeiro onde o papel tradicional do banco
como intermediário de poupanças,
coletando depósitos para estender o
crédito, não predomina". O motivo é
conhecido. As instituições financeiras encontram oportunidades mais
seguras e rentáveis para obter ganhos no mercado: "Investem em títulos como forma principal de negócio", observa o texto.
Segundo o documento, embora os
bancos brasileiros tenham um percentual de ativos totais em relação ao
PIB muito próximo do norte-americano (77,1% contra 77,3%), a fatia
destinada ao crédito é proporcionalmente muito menor. Enquanto nos
Estados Unidos ela equivale a 45,3%
do PIB, no Brasil é de apenas 24,8%.
O estudo do FMI vai além e toca
num tema tabu: afirma que existem
evidências "empíricas" de que "os
bancos brasileiros se comportam de
forma oligopolista".
É indispensável que a economia
brasileira conte com um sistema financeiro saudável e robusto. Isso está tão fora de questão quanto a necessidade de que esse sistema venha a
desempenhar, de forma competitiva,
o papel que, enfaticamente, a economia e o país precisam: o de oferecer
crédito a taxas compatíveis a empresas e consumidores para dinamizar
o crescimento econômico.
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