São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Insanos ou cínicos?

SÃO PAULO - Espero que a corte lulista seja apenas cínica. Se for insana, como demonstram algumas de suas frases mais recentes, aí a coisa vai piorar -e muito.
Começa com Frei Betto e sua alusão a governos que devem combater privilégios, na missa pelos 30 anos de casamento do presidente e de dona Marisa. Se o frade acredita que o governo Lula combateu um privilégio, um só que seja, é um insano.
Da mesma forma, o coordenador político Aldo Rebelo chama de "progressista" a Câmara dos Deputados, por ter aprovado o mínimo de R$ 260, enquanto o "reacionário" Senado votava pelos R$ 275.
Não dá para acreditar que Rebelo acredite no que disse. Se acredita, também é um insano.
Aí vem Luiz Dulci, secretário-geral da Presidência, e diz que, "em um ano e meio, Lula superou a crise econômica herdada de oito anos de neoliberalismo predatório".
Deus do céu, será que ele acha mesmo que, em um país em que o desemprego cresceu, a renda está estagnada ou caindo e o crescimento é pífio e incerto, a crise econômica está mesmo superada? Seria ridículo, não fosse trágico. Espero, por isso, que seja apenas cinismo, porque, se o ministro acredita no que disse, nada mudará e as coisas só farão piorar.
Não faltou -nem poderia- o ministro José Dirceu com sua teoria conspiratória da aliança da mídia, setores empresariais e até "forças políticas internacionais" se articulando contra o governo Lula.
Mais uma tolice. A única conspiração contra o governo Lula que está em andamento é a da incompetência do próprio governo, a começar por Dirceu, que teve de ser sacado da função de coordenador político para ser gerente e não consegue ser nem uma coisa nem outra.
Vamos ser claros: o governo Luiz Inácio Lula da Silva é o mais conservador da história, pelo menos desde a redemocratização do país, em 1985. Em um país em que há pouco a conservar, um governo assim só pode ser um fracasso. O resto, ou é insanidade, ou é tolice, ou é cinismo.


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