São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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Deterioração rápida

VÃO SE DETERIORANDO rapidamente as condições políticas e econômicas na Argentina. A queda-de-braço entre governo e ruralistas em torno da carga fiscal que incide sobre o setor é antes de mais nada um sintoma. Foi para financiar suas políticas populistas que a presidente Cristina Kirchner pretendeu impor uma derrama aos agricultores, criando uma escala móvel de tributos sobre exportação que pode chegar a até 95%.
O Executivo queria com isso abocanhar mais recursos e também desestimular as exportações, aumentando a oferta interna de alimentos com vistas a reduzir os episódios de desabastecimento e a inflação. O que ocorreu, porém, foi o inverso.
Os ruralistas reagiram ao pacote fiscal de março promovendo seguidos locautes, que agravaram a falta não só de gêneros alimentícios como também de combustíveis. Produtos difíceis de encontrar significam aumento de preços. A inflação se acelerou, apontando para 30% neste ano, e já faz analistas preverem uma forte redução no ritmo de crescimento do PIB. No início do ano, falava-se em 8%; agora a estimativa é de 5%. Para o ano que vem, as expectativas baixaram de 6% para algo entre 2% e 3%.
A avaliação popular de Cristina Kirchner tem recuo ainda mais expressivo. Segundo o instituto Poliarquía, sua popularidade despencou de 54% em fevereiro para 20% em junho.
Será difícil para a Argentina sair da encrenca em que se meteu. Antes de mais nada, o governo precisa parar de manipular escandalosamente os índices de inflação e se empenhar em combatê-la de verdade. Isso, entretanto, exigiria medidas duras, como subir os juros e moderar o gasto público, sem mencionar o nó das tarifas subsidiadas.
É tudo o que o governo não fará diante da aproximação das eleições parlamentares de 2009, tidas como vitais para o futuro político do casal Kirchner.


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