|
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Metas programadas
Governo deveria aproveitar a
melhora nas expectativas
sobre a inflação para lançar
um cronograma gradual de
ajuste nos compromissos
Na semana passada, o ministro
da Fazenda, Guido Mantega, comemorou o fato de que, pela primeira vez, o risco de crédito (chance de calote no período de um ano)
atribuído pelo mercado financeiro
ao Brasil ficou abaixo do risco dos
Estados Unidos.
Ora, o Brasil é um dos principais
credores dos EUA. As reservas do
país estão, na maioria, aplicadas
em papéis do governo americano.
O aumento do risco lá não deveria
ser motivo de regozijo aqui.
De todo modo, a discussão retornou à ordem do dia com a decisão da agência Moody's de elevar
a nota do Brasil e manter uma
perspectiva positiva, o que implica que uma nova alta na avaliação
pode ocorrer em meses.
A agência justificou o aumento
da nota com base em "recentes
ajustes na política [econômica],
que deverão resultar em um cenário macroeconômico mais sustentável e em perspectivas melhores
de médio prazo para os indicadores fiscais e de crescimento".
O ajuste ao qual a agência se refere é a reversão das políticas de
expansão de gastos fiscais e de
crédito público que vigoraram em
2009 e 2010. Espera-se para 2011
que o governo atinja a meta de superavit primário (antes das despesas de juros) de 2,9% do PIB e que
os desembolsos do BNDES cresçam abaixo dos dois últimos anos.
A Moody's salienta também que
as medidas de controle do crédito
e de aperto monetário tomadas
pelo Banco Central reduzirão o risco de inflação ao longo do tempo.
Muito da boa avaliação parece
refletir uma visão relativa: com
um deficit público de 2,5% do PIB
neste ano, o Brasil aparece bem
nas comparações internacionais.
Os EUA, por exemplo, terão deficit
fiscal próximo de 10% do PIB. Isso
sem falar na periferia da Europa,
que ruma para a insolvência.
Não que o país mereça muitos
aplausos nessa área. Ainda não há
um plano de ajuste fiscal de médio
prazo bem desenhado. Muitos
analistas consideram que a contenção deste ano é pouco sustentável. Além disso, se é verdade
que a área fiscal teve melhoras,
deveria haver maior cobrança por
progressos no objetivo monetário.
Na próxima semana, o Conselho Monetário Nacional definirá a
meta de inflação para 2013. Ao invés de manter o alvo em 4,5% pelo
nono ano seguido, caberia firmar
um compromisso decidido com a
inflação baixa e diminuir a meta
para 4,25%, como primeiro passo
de um programa gradual de redução, ao longo de vários anos.
Não é correto presumir que a
meta menor implicará menos
crescimento. Se o prazo de ajuste
for adequado, a redução forçaria o
governo a avançar na desindexação da economia e derrotar de vez
a memória inflacionária.
Próximo Texto: Editoriais: Sob a fumaça do crack
Índice | Comunicar Erros
|