São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2011

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Metas programadas

Governo deveria aproveitar a melhora nas expectativas sobre a inflação para lançar um cronograma gradual de ajuste nos compromissos

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comemorou o fato de que, pela primeira vez, o risco de crédito (chance de calote no período de um ano) atribuído pelo mercado financeiro ao Brasil ficou abaixo do risco dos Estados Unidos.
Ora, o Brasil é um dos principais credores dos EUA. As reservas do país estão, na maioria, aplicadas em papéis do governo americano. O aumento do risco lá não deveria ser motivo de regozijo aqui.
De todo modo, a discussão retornou à ordem do dia com a decisão da agência Moody's de elevar a nota do Brasil e manter uma perspectiva positiva, o que implica que uma nova alta na avaliação pode ocorrer em meses.
A agência justificou o aumento da nota com base em "recentes ajustes na política [econômica], que deverão resultar em um cenário macroeconômico mais sustentável e em perspectivas melhores de médio prazo para os indicadores fiscais e de crescimento".
O ajuste ao qual a agência se refere é a reversão das políticas de expansão de gastos fiscais e de crédito público que vigoraram em 2009 e 2010. Espera-se para 2011 que o governo atinja a meta de superavit primário (antes das despesas de juros) de 2,9% do PIB e que os desembolsos do BNDES cresçam abaixo dos dois últimos anos.
A Moody's salienta também que as medidas de controle do crédito e de aperto monetário tomadas pelo Banco Central reduzirão o risco de inflação ao longo do tempo.
Muito da boa avaliação parece refletir uma visão relativa: com um deficit público de 2,5% do PIB neste ano, o Brasil aparece bem nas comparações internacionais. Os EUA, por exemplo, terão deficit fiscal próximo de 10% do PIB. Isso sem falar na periferia da Europa, que ruma para a insolvência.
Não que o país mereça muitos aplausos nessa área. Ainda não há um plano de ajuste fiscal de médio prazo bem desenhado. Muitos analistas consideram que a contenção deste ano é pouco sustentável. Além disso, se é verdade que a área fiscal teve melhoras, deveria haver maior cobrança por progressos no objetivo monetário.
Na próxima semana, o Conselho Monetário Nacional definirá a meta de inflação para 2013. Ao invés de manter o alvo em 4,5% pelo nono ano seguido, caberia firmar um compromisso decidido com a inflação baixa e diminuir a meta para 4,25%, como primeiro passo de um programa gradual de redução, ao longo de vários anos.
Não é correto presumir que a meta menor implicará menos crescimento. Se o prazo de ajuste for adequado, a redução forçaria o governo a avançar na desindexação da economia e derrotar de vez a memória inflacionária.


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