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BORIS FAUSTO
Populismo paulista
Como entender a posição, embora não definitiva de Paulo Maluf, nas pesquisas eleitorais para o governo de São Paulo, em torno de 40%
das intenções de voto? Como entender o avanço de uma figura política
que muitos presumiam liquidada, ao
peso das denúncias de corrupção, da
demagogia, das grosserias machistas?
A história de São Paulo contém uma
parte da explicação. Maluf, como pouca gente ignora, constitui talvez o último, mas ainda vicejante rebento do
populismo de direita paulista, um fenômeno que não encontra similiar em
outros Estados do país.
Não é fácil entendê-lo, porém o certo é que ele se cristalizou, a partir do
antecessor de Maluf -Ademar de
Barros. Ademar veiculou a imagem da
capacidade de realização a qualquer
preço, expressa em fórmulas do gênero "vamos acelerar o Brasil", ou "fé em
deus e pé na tábua". Atraiu setores de
uma sociedade em transição -pequenos e médios comerciantes, alguns
empresários, a massa plebéia presa a
serviços pouco valorizados- pela via
da crença indefinida nos "negócios".
Alternativa primária, mas eficaz, que
insistia na importância de "fazer o dinheiro rolar", em vez de enveredar pelo tema complexo do desenvolvimento econômico.
Opondo-se ao udenismo bem-comportado e ao histrionismo janista, que
incorporava como tema central de seu
discurso a cruzada contra a corrupção, o ademarismo caracterizou-se
ainda por uma "política de resultados", o célebre "rouba, mas faz" , estranha fórmula que seus partidários
sustentaram diante de acusações difíceis de contestar.
Com tais instrumentos, Ademar
projetou-se no cenário nacional, garantindo a vitória de Getúlio, nas eleições de 1950, e alcançou 26% dos votos nacionais em 1955, ganhando em
São Paulo.
Se há uma filiação genética entre
Ademar e Maluf, há também muitas
diferenças, derivadas de contextos
históricos diversos. O estilo se assemelha, os pressupostos não-éticos também, mas hoje há novos e valiosos
trunfos para a disseminação de um
populismo de direita. Dentre eles,
avulta o trunfo da segurança.
Por mais que o governador Geraldo
Alckmin se dedique a enfrentar um
quadro muito grave, subsiste o fato de
que a visibilidade dos êxitos é lenta,
numa área em que a explicável sensação de medo se sobrepõe ao raciocínio. Campo fértil para a atração pelo
discurso populista, com suas supostas
medidas implacáveis, capazes de nos
devolver rapidamente a tranquilidade
- uma saída tão compensadora
quanto falsa para uma situação-limite.
Ainda assim, as acusações contra o
candidato não deveriam pesar no eleitorado que não é malufista em qualquer circunstância? Só até certo ponto. Como tem lembrado Luís Nassif,
em sua coluna desta Folha, o denuncismo que tomou conta de boa parte
da mídia, ao longo dos últimos anos,
banalizou acusações de corrupção, alcançando a honra de muita gente séria. Além disso, o oportunismo eleitoral acabou reabilitando cidadãos "acima de qualquer suspeita", fato inadmissível há não muito tempo.
Por que não pensar, nesse contexto,
que "todos os políticos roubam", mas
só alguns são capazes de fazer?
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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