São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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RETOMADA ECONÔMICA

Graças ao desempenho das empresas exportadoras dos setores industrial e agrícola, foi criado 1,23 milhão de vagas com carteira assinada no país entre janeiro e julho de acordo com o Ministério do Trabalho. Com o aumento do emprego, inflação sob controle e perspectivas de crescimento, as negociações salariais mostraram-se mais favoráveis aos trabalhadores. De acordo com o Dieese, 79% dos acordos coletivos firmados de janeiro a junho tiveram reajustes iguais ou superiores à inflação calculada pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
A recomposição, ainda que parcial, das perdas na renda do trabalhador e a reação do mercado de trabalho aumentaram a confiança do consumidor. O comércio registrou no primeiro semestre expansão no volume de vendas, que aumentaram 9,33% de janeiro a junho na comparação com o mesmo período de 2003, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE. Nunca é demais lembrar que a base de comparação é fraca, já que em 2003 as vendas caíram 3,67%.
Esses indicadores juntamente com a melhoria das contas externas consolidam um cenário econômico mais positivo. O superávit comercial deverá alcançar US$ 30 bilhões em 2004. A forte depreciação da moeda nos últimos anos e a modernização de alguns setores tornaram muitos produtos altamente competitivos. Além disso, as exportações foram impulsionadas por preços maiores, sobretudo os das commodities, por forte demanda fomentada pelo crescimento mundial e pela diversificação de mercados.
Há sinais também de que as multinacionais no Brasil vão alterando suas estratégias para dar mais ênfase às exportações. Obter receita em moeda estrangeira tornou-se essencial a fim de garantir proteção contra as flutuações da taxa de câmbio. Com isso, procuram estabilizar o fluxo de importações de peças e componentes e preservar o patrimônio. Dessa forma, o país assiste a um aumento das exportações de manufaturados, acompanhando o competitivo agronegócio.
O atual superávit em conta corrente, da ordem de US$ 7,9 bilhões, ou 1,5% do PIB, ajuda a reduzir a vulnerabilidade do Brasil aos choques externos e abre perspectivas para um ciclo menos volátil de recuperação da atividade econômica. No entanto a taxa de investimento em torno de 18% do Produto Interno Bruto, registrada no ano passado, é muito baixa para viabilizar um crescimento prolongado acima de 3,5% ao ano sem desencadear pressões inflacionárias.
Nesse sentido é boa a notícia de que um conjunto de 346 empresários entrevistados pelo Instituto Brasileiro de Economia da FGV demonstrava intenção de investir um total de R$ 10,6 bilhões, em julho passado -valor 21% acima do registrado em 2003. Espera-se que a maior parcela desses recursos seja destinada à ampliação da capacidade instalada. Com a reativação da economia, as empresas estrangeiras começam a analisar a possibilidade de expansão dos seus negócios no país. De modo geral, as companhias estrangeiras só decidem ampliar suas operações quando fica evidente o processo de recuperação econômica.
No curto prazo, a alta prolongada nos preços do petróleo persiste como a principal ameaça, uma vez que pode acelerar a inflação e levar o Banco Central a aumentar os juros, o que poderia ter efeitos desastrosos sobre a retomada dos investimentos e a sustentabilidade do crescimento.


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