São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Os pessimistas estão errados

DEMIAN FIOCCA

A ECONOMIA brasileira alcançou nos últimos anos as melhores condições das últimas décadas. Os casos de recusa em reconhecê-lo aparecem como uma sucessão de teses duvidosas que, uma depois da outra, não se confirmam.
Em julho de 2002, dizia-se que, se Lula fosse eleito, o Brasil entraria em crise. Eu dirigia a área de economia de uma multinacional, e nossas projeções mostravam que as contas externas reagiriam antes que as reservas internacionais se esgotassem. Também era racional prever que o novo presidente manteria a responsabilidade fiscal.


Os construtores de teses negativas podem torcer o nariz, mas a verdade é a seguinte: a economia vai bem


Não era difícil concluir que a crise seria revertida. Mas muitas análises, sobretudo antes das eleições, previam grave crise. Não houve.
No final de 2003, quando o Brasil retomou o crescimento, passaram a repetir que aquilo era só o "milagre" Palocci. Não haveria mérito do presidente ou do conjunto do governo -sem o "fiador" da economia, a confiança voltaria a se perder.
Palocci é um homem de espírito público e foi um grande ministro. Mas a tese que personalizava os sucessos econômicos também se mostrou falsa. O ministro Mantega assumiu a Fazenda e o risco-país continua a registrar os níveis mais baixos da história.
Em 2005, quando o PIB desacelerou, surgiu a versão de que o Brasil repetia o "vôo de galinha", que continuava com as mesmas fragilidades e que não conseguiria crescer continuadamente. A tese convinha ao desejo de desmerecer os avanços dos últimos anos. Mas era equivocada, novamente.
A desaceleração de 2005 foi tipicamente conjuntural. Há quem discuta, na opinião pública, a dosagem de juros. Mas isso nada tem a ver com as crises de 1995, 1997, 1998, 1999, 2001 ou 2002. Os juros não subiram para conter fuga de capitais nem por incerteza fiscal, e não houve nada parecido com o racionamento de energia.
Surge então a tese de que o país não aproveitou a boa fase da economia mundial. No entanto, entre 2002 e 2005, o volume de exportações do Brasil cresceu a taxas maiores (96%) do que o comércio mundial (60%).
Mérito do setor produtivo nacional, mas também das ações do governo para abrir novos mercados, desonerar exportações, financiar o setor.
Há, sim, exportadores que sofrem com a valorização do real, sobretudo nos setores mundialmente afetados pela concorrência chinesa. Mas é equivocado descrever a situação atual como a volta ao erro de 1995-98, o chamado "populismo cambial". Naqueles anos, o balanço de pagamentos tinha déficit nas contas correntes de 3,4% do PIB, em média. O câmbio valorizado era forçado pela política econômica.
Em 2003-2005, a valorização decorre do sucesso comercial. As contas correntes registram superávit de 1,5% do PIB, em média. E a ação do governo, ao contrário do período de populismo cambial, tem sido no sentido de suavizar a valorização, e não de provocá-la.
Desde 2003, o governo reduziu a dívida interna indexada ao câmbio em US$ 73,7 bilhões, amortizou US$ 32,6 bilhões de dívida externa e comprou US$ 42,8 bilhões em reservas. São US$ 149,1 bilhões de intervenção para conter a valorização. As novas medidas no mercado de câmbio têm a mesma direção. Do ponto de vista fiscal, o parâmetro central de consistência é a trajetória da dívida/PIB. Enquanto crescia, ela minava a confiança no Brasil e tantas vezes contribuiu para crises.
Pois bem. Caiu de 61,7%, em setembro de 2002, para 50,3%, em junho de 2005.
Agora, alguns querem migrar a discussão fiscal para os gastos correntes.
Tudo pode ser discutido, claro. Mas se deve dar a cada fato sua justa dimensão. O gasto corrente subiu 3,2% ao ano entre 1994 e 2002: de 13,4% do PIB para 17,3% do PIB. Chegou a 18,2% em 2005 -aumento de 1,8% ao ano.
Este governo, portanto, desacelerou a trajetória do gasto. E como foi sua composição? O gasto médio com pessoal caiu de 5,1% do PIB, em 2000-2002, para 4,8% do PIB, em 2003-2005. Nos últimos 12 meses até junho, continuou em 4,8% do PIB.
Já os gastos correntes de natureza social, sobretudo saúde, educação, Loas, Bolsa-Família, salário mínimo e Previdência, subiram de 9,3% do PIB, em 2000-2002, para 10,5% do PIB, em 2003-2005. Pode-se ser contra essas prioridades. Mas chamar de "gastança" é enganoso.
As políticas de crédito público estão mais ativas, e o mercado de capitais está crescendo. Ambos contribuem para dar continuidade à expansão do investimento.
Com as condições reunidas nos últimos anos, é muito improvável que algo possa impedir o país de crescer de maneira virtuosa. Os construtores de teses negativas podem torcer o nariz, mas a verdade é a seguinte: a economia vai bem.
DEMIAN FIOCCA , 38, economista, é presidente do BNDES.


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