São Paulo, quarta-feira, 22 de agosto de 2007

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ANTONIO DELFIM NETTO

Blindagem

NÃO PODE haver dúvida sobre o fato. A economia brasileira está mesmo numa situação muito melhor do que esteve nos últimos 20 anos, particularmente no setor externo. A tabela abaixo mostra a situação:




No final da octaetéride fernandista, o Brasil estava quebrado. Tínhamos corrido duas vezes ao FMI, às vésperas das duas eleições, para que elas transcorressem de forma civilizada. Em 2002, a situação externa era dramática, com uma tremenda acumulação de déficits em conta corrente (quase US$ 190 bilhões no período), apesar do crescimento pífio no período (média anual de 1% per capita em 1995/2002).
O quadro mostra que a vulnerabilidade externa que nos ameaçava foi totalmente superada e que estamos hoje com uma situação folgada. O Tesouro Nacional é credor líqüido: suas dívidas são muito inferiores às suas reservas no Banco Central. No final de 2007 (se tudo continuar como está), elas devem ser equivalentes a 90% do total da dívida externa, incluindo o setor privado. Em 2002, não chegavam a 20%. Finalmente, elas que, em 2002, eram equivalentes a 42 meses de exportação, hoje são de apenas 14 meses.
É preciso, por outro lado, reconhecer que esse resultado se deve menos às virtudes de nossa política econômica e mais à evolução da economia mundial: o seu rápido crescimento aumentou o volume e o preço de nossas exportações. A prova disso é que, apesar de toda a nossa fanfarrice exportadora, continuamos a representar um mísero 1,2% do comércio mundial, quando em 1984 representávamos 1,4%. Isso se deve às erráticas políticas cambiais oportunistas dos últimos 20 anos.
De qualquer forma, temos uma relativa blindagem contra as flutuações da economia mundial, mas é ledo engano acreditar que "somos um ilha de tranqüilidade" num mundo angustiado pelos exageros do "subprime"...

contatodelfimnetto@uol.com.br

ANTONIO DELFIM NETTO
escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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