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FERNANDO RODRIGUES
Degradação institucional
BRASÍLIA - O escândalo dos
grampos já está quase no arquivo de
indignações sem solução do Brasil.
O último capítulo foi um laudo da
PF na semana passada sobre a capacidade de a Abin fazer escutas telefônicas. Os equipamentos dos arapongas só captam conversas a partir das antigas linhas analógicas.
Logo, o presidente do STF, Gilmar
Mendes, não teria sido ouvido ilegalmente com os aparelhos do serviço secreto federal.
A reação negativa ao laudo explicitou o estágio de degradação das
instituições brasileiras. Ministros,
congressistas e juízes colocaram
sob suspeita a perícia. A CPI dos
Grampos já anunciou uma análise
independente -que certamente
também será questionada.
Na quinta-feira à noite, num jantar com gente graúda da República,
não se ouvia ninguém disposto a
defender o resultado do laudo da
PF. Há um estado de desmoralização de calibre não desprezível das
instituições em Brasília.
O Congresso não confia no Poder
Executivo, que não confia no Poder
Judiciário, que não confia em ninguém. Não se trata da desejável fórmula dos freios e contrapesos pensada por Montesquieu há 260 anos.
O caso brasileiro é de aversão abjeta, pura e simples, um pelo outro.
Há pouca ou nenhuma disposição de colaboração mútua dentro
do governo. Desde a volta à democracia os Três Poderes vivem uma
lenta, constante e perigosa perda de
credibilidade. É quase um esporte
nacional falar mal dos "políticos",
expressar repugnância por qualquer órgão policial ou desconfiar da
isenção dos juízes.
Depois de décadas de estagnação
ou retrocesso, houve alguns avanços na economia e no social. Tudo
muito lento. Mas, na área dos costumes e boas práticas públicas, a velocidade é ainda menor. Para piorar, há pouca gente disposta a descontaminar o ambiente e produzir
um país mais saudável.
frodriguesbsb@uol.com.br
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