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MARINA SILVA
O risco
nuclear
APÓS ANOS de intensos debates, o Conselho Nacional de
Política Energética aprovou, em junho de 2007, a retomada
da construção de Angra 3. À frente
do Ministério do Meio Ambiente,
procurei alertar, durante quatro
anos e meio, de que a energia nuclear é cara e terrivelmente insegura, pois gera resíduos radioativos
que duram, pelo menos, 50 mil
anos. Defendi que a questão deveria ser tratada com muita cautela.
Mas fui voto vencido no CNPE e o
assunto foi levado ao Ibama para a
concessão da licença prévia que,
segundo opiniões técnicas, não poderia ter sido aprovada com modelagem de dispersão de poluentes
inadequada e sem apresentação de
estudos hidrogeológicos e da metodologia dos estudos sismológicos.
Ainda nem bem terminou essa
discussão e já se anuncia acordo
com a Argentina na área nuclear e a
intenção de construir 50 usinas em
50 anos. Antes de tudo, decisões
desse porte não podem ser tomadas à revelia da sociedade, sem profundo debate. A nossa Constituição já indicou o caminho, quando
acabou com o segredo e o poder exclusivo de setores do Executivo sobre esse assunto, determinando a
aprovação dos projetos de usinas
nucleares pelo Congresso.
Nos últimos dias, duas importantes notas de organizações da sociedade civil criticaram duramente
a prioridade às usinas nucleares
anunciada pelo governo. O Fórum
Brasileiro de ONGs e Movimentos
Sociais para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento (www.fboms.org.br) lembra que até hoje o
CNPE "funciona de forma ilegítima, sem a devida nomeação de cidadão brasileiro especialista em
energia, que teria direito a voto,
conforme previsto em regimento".
Outra nota (www.socioambiental.org.br/nsa/detalhe?id=2748), assinada por 63 ONGs e redes sociais de Brasil, Argentina,
Uruguai, Chile, Colômbia e Paraguai, repudia a nuclearização da
América do Sul, via acordo Brasil-Argentina.
Quando a humanidade começou
a produzir energia fóssil em larga
escala e a jogar seus resíduos na atmosfera, não tinha consciência dos
impactos que causaria sobre o clima. No caso da energia nuclear, há
conhecimento claro e suficiente
sobre o perigo. Por que insistir
nessa opção, quando há alternativas como a energia eólica ou a de
biomassa?
A população brasileira já se manifestou, em pesquisa de opinião
("O Que o Brasileiro Pensa do
Meio Ambiente", Instituto de Estudos da Religião, 2003), majoritariamente (2/3 dos ouvidos) contrária às usinas nucleares. Diante
disso e do risco de um grave retrocesso, é preciso que o governo tenha a sensibilidade de parar para
refletir e dialogar com a sociedade,
enquanto é tempo.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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