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Mais debate
O 2º turno provocou um confronto de posições mais democrático, superando os padrões do marketing eleitoral
DIRIGINDO-SE com bom
humor aos jornalistas
da Folha, depois de
encerrada a sabatina
de quarta-feira passada, o presidente Lula afirmou sua disposição de "encher a paciência de vocês de tanto dar entrevistas"
num eventual segundo mandato.
Que não seja apenas mais uma
promessa de campanha.
Durante os quatro anos de seu
governo, o presidente Lula raramente se dispôs ao confronto direto com jornalistas, dedicando-se antes ao que parecia uma seqüência interminável de comícios eleitorais. Os mais variados
eventos e ocasiões habituaram-no ao exercício fácil da retórica
sem contestação, cristalizando o
célebre refrão segundo o qual
"nunca, neste país" registraram-se tantos e tão extraordinários
feitos como os contabilizados
nos quatro anos de seu governo.
Foi sem dúvida um efeito positivo do segundo turno o de forçar o presidente Lula a abandonar a atitude de isolamento, entre defensiva e messiânica, que
vinha adotando durante a disputa sucessória. Como candidato,
foi por certo punido pelo eleitorado ao se recusar a participar do
único debate programado durante o primeiro turno.
À medida que se aproximam as
eleições, a campanha dá mostras
de superar os padrões do puro
marketing político. Sem dúvida,
continuam vagas e evasivas as
discussões sobre o que há de
substancial a ser feito para acelerar o crescimento econômico,
para resolver as carências gritantes do país em áreas como infra-estrutura, educação, saúde e
segurança pública.
A discussão dos sucessos e malogros do atual governo, sua
comparação com o que se fez e se
deixou de fazer no governo Fernando Henrique Cardoso, contribuiu entretanto para trazer a
público, se bem que sob a forma
desnorteante da saraivada de estatísticas ostentadas pelos postulantes em cada debate, alguma
informação concreta sobre as
realidades do país.
O pano de fundo de todo o debate continua a ser o de uma deprimente falta de propostas inovadoras, indicando até mesmo
uma convergência programática
entre os candidatos que, evidentemente, o ardor político da
campanha tende a ocultar. Seja
como for, o período do monólogo, do auto-elogio, dos gestos vazios de palanque, cedeu lugar a
uma campanha mais viva e democrática neste segundo turno.
Mais do que uma simples mudança de qualidade na disputa
presidencial, está em jogo o fortalecimento de uma prática que
não se resume aos momentos
pré-eleitorais. Não apenas na
condição de candidato, mas também na de governante, todo líder
político numa democracia é periodicamente levado a prestar
contas de suas atitudes e responder aos questionamentos da imprensa. Eis um compromisso republicano que, embora óbvio,
ainda tem ares de novidade no
Brasil; quanto à imprensa, só se
pode dizer, para repetir os termos do presidente Lula, que não
lhe falta "paciência" para cumprir a sua parte.
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