São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

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VALDO CRUZ

Até que a crise nos abata

BRASÍLIA - Lá pelo mês de agosto, quando a crise no setor imobiliário norte-americano estourou e o dólar no Brasil disparou, a equipe econômica ensaiou um discurso de que iria acelerar a votação de medidas fiscais no Congresso para mostrar que estava se preparando para uma situação adversa.
Ficou no discurso. Depois da ação dos Bancos Centrais mundiais, principalmente nos EUA, o cenário meio que se acalmou, o dólar voltou a cair por aqui e a disposição para adotar controles sobre o crescente gasto público foi parar na gaveta.
Daí que a única medida fiscal de fato do PAC está esquecida nos arquivos do Congresso. Ninguém mais fala daquele projeto que criava um limite para o aumento das despesas com a folha de pagamento do setor público.
Enquanto isso, os gastos correntes da União só fazem subir, bancados por uma arrecadação de impostos cada vez mais crescente. É justo destacar que não estamos prestes a cair numa crise fiscal. O governo continua gerando uma economia suficiente para pagar juros e manter sob controle sua dívida.
Perde-se, contudo, a oportunidade de conter despesas nem sempre justificáveis, como aumentos elevados para setores ineficientes do serviço público, que poderiam abrir espaço para novas reduções de impostos que vitaminariam ainda mais a economia.
Agora, nas negociações para prorrogar a CPMF, os tucanos ensaiam pôr na mesa a exigência de que o governo adote um redutor anual em seus gastos em troca de aprovar uma sobrevida ao imposto do cheque, que renderá, em 2008, R$ 40 bilhões aos cofres públicos.
Nada mais justo. Afinal, não parece muito inteligente garantir uma montanha de dinheiro a um governo que não tem lá grandes preocupações com seu gasto.
Principalmente se essa dinheirama acabar fazendo a festa do candidato de Lula em 2010. Pior é se, antes do baile, a crise ressurgir. Pode ser tarde demais.

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