São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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RICARDO YOUNG

Diversidade e vontade política

O Brasil, que votou maciçamente em duas mulheres para a Presidência da República e escolheu uma delas para ocupar o mais alto cargo executivo da nação, ainda não tem representação feminina significativa em nenhum cargo das 500 maiores empresas do país. Este é um dos dados contidos no "Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil - 2010".
O estudo pioneiro, e até o momento único do país, é feito pelo Instituto Ethos e pelo Ibope Inteligência a cada dois anos, desde 2001. Ele avalia, entre outros dados, a composição por cor ou raça e sexo, bem como presença de pessoas com deficiência em todos os níveis hierárquicos das maiores empresas do país.
O estudo mostra avanços, mas o ritmo é muito lento, de um ou dois pontos percentuais a cada ano. Hoje, as mulheres, que são 51% da população brasileira (IBGE), têm 31% de representação no quadro funcional, 26,8% na supervisão, 22,1% na gerência e 13,7% no executivo.
Para negros e pardos, que somam 98 milhões de brasileiros, as disparidades são ainda maiores e aumentam à medida que se sobe na hierarquia.
Eles são 31,1% no quadro funcional; 25,6% na supervisão, 13,2% na gerência e 5,3% no executivo.
A mulher negra ou parda -50,1% do total de mulheres na população brasileira- representa 9,3% do quadro funcional, 5,6% da supervisão, 2,1% da gerência e 0,5% da diretoria -são 6 negras entre 119 diretoras.
Pessoas com deficiência têm, no máximo, 1,5% de participação nos cargos.
O paradoxo deste cenário é que, entre as 500 maiores, encontram-se empresas fortemente engajadas no movimento de responsabilidade social, com ações concretas para tornar os negócios parceiros do desenvolvimento sustentável no país.
Parece óbvio que, apesar da aparente boa vontade, essa responsabilidade social ainda não se traduziu em políticas consistentes de RH em toda a linha: do recrutamento e seleção à avaliação de cargos, salários e carreira funcional.
Está provado que a promoção da diversidade melhora a competitividade e contribui para formar uma sociedade menos preconceituosa e mais tolerante. Por que então esta letargia?
Adotar a diversidade como fator crítico de sucesso nos negócios é questão de vontade política. Quem já fez dá a receita: estabeleça metas para cada segmento, não se distraia. Em cinco anos, as disparidades diminuirão muito e até podem acabar.
O Brasil caminha para ser a quinta economia global. A promoção da diversidade nas empresas é um passo decisivo para o desenvolvimento econômico andar junto à melhoria efetiva da vida das pessoas. Então, caros empresários, mãos à obra!


RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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