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TENDÊNCIAS/DEBATES
Até 2013
MARCUS VINICIUS PRATINI DE MORAES
Está na hora de investir mais nos mercados emergentes, que já são os maiores importadores de produtos do agronegócio
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Em Hong Kong, no final do ano
passado, concluiu-se mais uma rodada do esporte preferido pelos negociadores internacionais: enxugar gelo.
Houve, é verdade, um pequeno avanço na questão dos subsídios à exportação, mas continuam sem implementação os compromissos assumidos em
Doha. Os países industrializados mantêm as suas políticas agrícolas protecionistas e continuarão subsidiando generosamente sua produção, cada vez mais
cara e cujas áreas competem com centros urbanos, indústrias, pólos de turismo, estradas e aeroportos pelo espaço
físico disponível.
Como sempre acontece nessas ocasiões, todos se proclamaram vitoriosos,
mas, na verdade, ninguém leva nada, a
não ser a continuidade das absurdas políticas agrícolas da União Européia, do
Japão, da Coréia do Sul e dos Estados
Unidos. Um modesto compromisso de
eliminar subsídios à exportação até 2013
foi comemorado.
Enquanto aconteciam os debates, reuniões, manifestações contra a OMC
(Organização Mundial do Comércio) e,
é claro, os tradicionais coquetéis e
"happy hours", uma nova realidade se
consolidava no mercado internacional e
parece passar despercebida.
No início dos anos 90, 80% das exportações brasileiras do agronegócio se
destinaram à tríade Estados Unidos,
União Européia e Japão. O restante, para os chamados emergentes. Em 2004,
52% das exportações foram embarcadas para os emergentes, e 48% o foram
para o trio dos desenvolvidos. Neste
ano, a participação dos emergentes já
atinge 55%, e as projeções indicam que,
no final desta década, de 75% a 80% das
nossas exportações do agronegócio irão
para esses países.
Para a carne bovina, o principal mercado é a Rússia. Depois, vêem o Egito, o
Chile e a Holanda. Na soja, o principal
mercado é a China. Na carne suína, a
Rússia. A tarifa aduaneira -sob essa
denominação ou suas variantes- na
Europa é de até 176%. Nos países emergentes é sempre menor.
Estamos assistindo ao crescimento
econômico rápido e contínuo -exceção feita ao Brasil- dos emergentes.
Com o crescimento, melhoram a renda
e os padrões alimentares, aumentando
o consumo de proteína animal e vegetal
para consumo humano e para ração
animal.
O Brasil se afirma como a última fronteira agrícola do mundo e já é o principal exportador líquido de alimentos e
de matérias-primas agrícolas. Não devemos abandonar a luta por melhores
condições de acesso e redução de subsídios dos nossos clientes tradicionais no
Atlântico Norte, mas está na hora de investir mais nos mercados emergentes,
que já são os maiores importadores de
produtos do agronegócio.
Quanto à OMC, ela se transforma em
um cartório de registro dos interesses
agrícolas de alguns países, e não devemos esperar grandes avanços nas negociações.
Sejamos pragmáticos. Vamos atenuar
o discurso do multilateralismo comercial e intensificar nossos contatos e
acordos com quem cresce e compra.
Quanto ao discurso pregando o livre-comércio, parece estar limitado a teses
acadêmicas e falas de ministros de Comércio e de Relações Exteriores que nos
visitam com freqüência e sempre com
sugestões de maior abertura.
Nós já abrimos demais. Agora é a hora
dos nossos parceiros do Norte.
Marcus Vinicius Pratini de Moraes, 66, economista, é presidente da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne). Foi ministro da Agricultura e do Abastecimento (governo FHC), ministro das Minas e Energia (governo Collor) e ministro da Indústria e do Comércio
(governo Médici).
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