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Olha lá Brasil!
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
Deng Xiaoping viveu 92 anos sonhando com uma nação fundada em
um sistema misto: capitalismo econômico e estatismo político.
Na era Xiaoping (1978-97), a China
cresceu muito. Mas a história terá de
provar a viabilidade de construir uma
economia livre em um regime sem liberdade. Os desafios são imensos. Vejam o que ocorre no campo da alimentação.
A produção agrícola da China, depois de Xiaoping, passou de 200 milhões para 350 milhões de toneladas de
grãos por ano. Um feito notável. Porém, nos últimos anos, desacelerou-se
-enquanto que a população cresceu.
No ano 2000, que está aí, a China terá 1,3 bilhão de habitantes, com um
bom poder de compra -fruto de um
crescimento econômico acelerado. No
curto período de 1992-96, a economia
chinesa cresceu 65%! É um fato espantoso.
Vem aí, portanto, uma colossal avalanche de novos consumidores, que
começarão por comprar alimentos. Os
chineses de hoje comem apenas um
quilo de carne de vaca e três quilos de
carne de frango por ano, enquanto
que, para citar o outro extremo, os
americanos comem 42 e 44 quilos, respectivamente (Lester Brown, "Who
Will Feed China?", 1995).
Para o ano 2000, os chineses fixaram
uma meta anual de consumo de 200
ovos por pessoa (hoje são cerca de
120). Para alimentar seus 1,3 bilhão de
habitantes, a China consumirá 260 bilhões de ovos por ano. Considerando-se que uma galinha de alta produtividade bota 200 ovos, a China precisará de 1,3 bilhão de galinhas: uma para
cada chinês.
Só para alimentar essas galinhas, o
país necessitará de um adicional de 24
milhões de toneladas de grãos -um
terço da produção brasileira. É um número bombástico. E, quando se considera a necessidade total de grãos, a demanda chinesa vai superar a casa das
400 milhões de toneladas/ano! Tudo é
monumental na China.
Devido a limitações de solo, topografia e água, a agricultura chinesa
não tem como atender a nova demanda. A China vai importar grãos de forma desesperada, para satisfazer 1,3 bilhão de consumidores melhor aquinhoados.
Uma previsão desse tipo causa pânico no mercado mundial. Uma coisa é
certa: se a oferta não aumentar, haverá
uma explosão de preços de alimentos
em esfera planetária.
Xiaoping morreu. Resolveu muitos
problemas. E deixou outros. Um deles
constitui uma grande chance para o
Brasil. Para tanto, precisamos começar já.
Entre nós, a agricultura tem sido levada na base do curto prazo. Isso precisa mudar. A agricultura é mais do
que uma âncora verde. É a saída para o
Brasil enfrentar a crise do emprego e
elevar substancialmente o padrão de
vida da população. O mundo de hoje
exige que pensemos grande porque os
problemas e as oportunidades também são grandes.
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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