UOL




São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELIANE CANTANHÊDE

De trás pra frente

BRASÍLIA - Tem razão o presidente do PPS, Roberto Freire: antes de o Congresso e os próprios aliados do Planalto começarem a discutir seriamente as reformas, é preciso que o governo ponha sua proposta inteira na mesa, não fragmentada e nas páginas dos jornais. "Eles querem que a gente discuta o quê? O vento?", indaga Freire, que já cobrou a responsabilidade do governo publicamente. Foi isso, uma proposta na mesa, que Lula foi buscar no churrasco de sexta e sábado com os 27 governadores. Só que num processo inverso: em vez de o governo jogar sua proposta como base da discussão, foi buscar a discussão para chegar a uma base. Confuso? Confuso, sim, mas o PT acha "mais democrático". Talvez. A próxima rodada é com os prefeitos de capitais, simultaneamente ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Enquanto a turma vai discutindo, vão brotando propostas mais pontuais, mais imediatas. Três delas surgiram do Torto: redução da contribuição previdenciária patronal de 22% para 11%, compensando com 1,15% no faturamento; fixação de teto e subteto salarial para o funcionalismo; troca das mais de 40 por cinco alíquotas de ICMS, o que na prática "federaliza" o imposto. E Lula avisou funcionários, governadores e interessados nas reformas: "Vou até o fim!". Se alguém esperava grandes mudanças com o governo PT, taí uma: vai pingando propostas, reunindo os contrários, produzindo a controvérsia para só então aprovar seu pacote. Um pacote "do consenso". Parece lindo, apesar do risco de o desgaste aumentar, e as idéias originais desidratarem e acabarem secas na selva do Congresso. Em vez de aproveitar o calor da lua-de-mel, Lula aparentemente prefere votar as reformas quando o casamento entrar na rotina. Em vez do "ideal", rapidamente, o "possível", quando der. É uma tática arriscada. Se der certo, certamente inovadora.
 
ACM acabou.



Texto Anterior: Los Angeles - Clóvis Rossi: O mau exemplo que deu certo
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: César vai a bordo!
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.