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São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Violência e terror derrubam o turismo

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) acaba de publicar um relatório com números dramáticos sobre o desempenho da indústria do turismo nos últimos dois anos (Dirk Belau, "The Impact of the 2001-2002 Crisis on the Hotel and Tourism Industry", Genebra, janeiro de 2003).
A combinação da desaceleração econômica com o ataque de 11 de setembro de 2001 foi responsável pela destruição de 6,5 milhões de postos de trabalho no mundo. Em 2002, os desastres na casa noturna de Bali e no teatro de Moscou reduziram mais meio milhão de empregos.
A crise do turismo é séria. Em 2001, quando se esperava um crescimento da receita mundial de 4% em relação a 2000, deu-se um declínio de 1,3%. Os Estados Unidos foram os mais afetados. Naquele ano, o turismo para aquele país reduziu-se em 11%. Em setembro, a queda foi de 30%; em outubro, de 34%! Do Brasil para lá, o número de turistas sofreu redução de 49%; da Alemanha, de 46%; e, do Japão, de 45%.
Em 2002, o turismo para os Estados Unidos reagiu de modo anêmico. A grande esperança era o ano de 2003. As estimativas previam um crescimento de 5%, que, mesmo assim, manteria os negócios bem abaixo do nível de 2000. Mas, com a continuação da desaceleração econômica e com o fantástico medo levantado pela guerra contra o Iraque e pelos ataques terroristas no território americano, as estimativas terão de ser revistas: 2003 poderá ser outro ano perdido para o turismo nos Estados Unidos.
O que dizer dos outros países? Estaria ocorrendo um redirecionamento dos turistas? O grande destaque nesse campo é a China, cujo crescimento do turismo se tem mantido em 13% ao ano (!), quase o dobro do crescimento do PIB. Em 2001, a China recebeu 75 milhões de visitantes, bem longe do Brasil, que recebeu cerca de 5 milhões.
Além da China, os turistas começam a explorar outras alternativas. Na Bulgária, o aumento de visitantes em 2001 foi de 14%; na Eslováquia, de 13%; na Turquia e na Croácia, de 12%; na Eslovênia, de 11%; na Estônia, de 9%. O sudeste asiático e o Pacífico tiveram um crescimento de 5,5%. A Austrália e a Nova Zelândia acompanharam essa tendência.
Parece que os turistas estão procurando os lugares menos afetados pelo perigo da guerra e do terrorismo. O Brasil poderia muito bem se enquadrar nesse rol de países.
O turismo gera muito emprego, mas o setor está se tornando exigente em matéria de qualificação profissional. Infelizmente, a qualidade da mão-de-obra do Brasil está longe da qualidade das suas belezas naturais.
Todos os candidatos falaram em promover o turismo. Está na hora de os planos passarem para a realidade, mesmo porque, com a destruição de empregos, estamos assistindo à destruição das nossas principais empresas aéreas. O Brasil não pode e não deve se desnacionalizar no campo da aviação.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.



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