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PÓLVORA NA FOGUEIRA
O assassinato do xeque Ahmed Yassin por forças israelenses é o equivalente a atirar pólvora
numa fogueira. Deixando de lado os
aspectos legais e morais da ação, até
as autoridades militares israelenses
admitem que a morte de Yassin,
apontado como o líder espiritual do
grupo terrorista palestino Hamas,
provocará retaliações por parte de várias organizações extremistas.
O governo do premiê israelense,
Ariel Sharon, contudo, acredita que,
no longo prazo, o Hamas se ressentirá com a falta de sua principal liderança. Isso não é tão certo. Com sua
política de assassinatos seletivos, Israel já anunciou a eliminação de várias dezenas de "membros do alto
escalão do Hamas" e de "operativos-chave". A pergunta que fica é: quantos altos executivos essa tosca organização terrorista pode possuir?
A menos que se acredite que o Hamas tenha uma estrutura de comando mais complexa do que a de grandes empresas transnacionais, é forçoso concluir que, para cada liderança morta, surgem dois ou três candidatos se oferecendo para tomar seu
lugar. E cada golpe que Israel desfere
contra o grupo terrorista apenas faz
aumentar o prestígio da organização
entre os palestinos.
Prosseguir nessa linha de atuação
parece ser um caminho sem saída
para Ariel Sharon. Antes de conseguir destruir o Hamas, o governo israelense talvez obtenha um esvaziamento ainda maior da liderança de
Iasser Arafat. O prestígio do Hamas
está crescendo justamente sobre os
fracassos de Arafat e de seu grupo
político -o Fatah. Talvez seja essa a
estratégia inconfessa de Sharon, ao
apostar na radicalização do conflito.
As ações militares de Israel com o
objetivo de matar líderes do terror
atropelam a lei, o Estado de Direito e
minam a superioridade moral que os
israelenses pretendem possuir nesse
conflito insano. As ações do Hamas
são odiosas e devem ser repudiadas
pela comunidade internacional. A
radicalização, no entanto, só conduz
a mais radicalização -algo que a dinâmica dos conflitos no Oriente Médio não cansa de demonstrar.
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