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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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FARSAS DE GUERRA

São bastante graves as acusações feitas pelo chefe dos inspetores de armas da ONU, Hans Blix, de que os EUA e o Reino Unido utilizaram documentos falsos para tentar defender a ação contra o Iraque.
Já era chocante o fato de as tropas invasoras não terem ainda localizado nenhuma das tão temidas armas de destruição em massa, que oficialmente motivaram a intervenção militar. Agora Blix revela que parte "importante" dos documentos em que Washington e Londres se basearam para tentar convencer a comunidade internacional de que o conflito era justo não passava de falsificação.
A prudência exige que se pare um pouco antes de acusar os governos norte-americano e/ou britânico de terem forjado eles próprios os documentos. Como bem observou Blix, o fato de Washington e Londres terem utilizado papéis falsos não significa necessariamente que fraude tenha sido perpetrada pela Casa Branca ou por Downing Street.
O benefício da dúvida, contudo, não explica como os serviços secretos americano e britânico deixaram de perceber -e apontar- que os documentos empregados não eram autênticos. O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, utilizou pessoalmente esses papéis em comunicação que fez ao Conselho de Segurança da ONU. E Blix muito oportunamente lembrou que bastou à AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) obter uma cópia de um suposto contrato de compra de 500 kg de urânio entre o Iraque e Níger citado por Powell para concluir que o acordo não passava de uma fraude.
A guerra seria condenável mesmo se George W. Bush tivesse atacado o Iraque por acreditar sinceramente que Saddam Hussein possuísse armas de destruição em massa. Há, porém, agora a plausível hipótese de que os próprios governos americano e/ou britânico tenham forjado ou utilizado fraudulentamente "provas" para deflagrar o conflito. Se essa suspeita se confirmar, Bush e seus asseclas terão destruído aquele mínimo de decência que se esperava dos líderes dos EUA e do Reino Unido.


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