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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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ANTONIO DELFIM NETTO

A Malásia e nós

A visita ao Brasil do primeiro-ministro da Malásia, dr. Mahathir Mohamad, colocou outra vez em discussão as eventuais vantagens de um controle do movimento de capitais para proteger os países emergentes das "modas" que costumam apropriar-se dos mercados. Em determinadas circunstâncias, esse controle é necessário, como vimos no Brasil no início dos anos 70.
Os acontecimentos a partir de 1997 mostraram que os mercados de capitais "são mais volúveis do que as penas ao vento", sempre flutuando ao sabor dos ataques de "otimismo" ou de "pessimismo" que se auto-alimentam até se esgotarem e entrarem em "indiferença passageira". Depois de algum tempo, todo o ciclo recomeça...
Agora mesmo, o Brasil, graças ao comportamento adequado do governo Lula, transformou-se num mercado admirado pelos investidores. As possibilidades de arbitragem deixadas pela armadilha monetária em que estamos atraem capitais de duvidosa qualidade, mas que valorizam fortemente o real. O nosso problema, diferentemente do da Malásia, é que o governo FHC não fez o ajuste externo. Depois de termos quebrado em 1998 e de termos sido socorridos pelo Fundo Monetário Internacional, continuamos a produzir substanciais déficits em conta corrente, exatamente o oposto do que aconteceu na Ásia. A tabela abaixo mostra o ajuste feito pelo dr. Mahathir.




O quadro mostra que, diferentemente da política brasileira de "panos quentes", o dr. Mahathir produziu o ajuste já em 1998 (a crise deles foi em 1997, a nossa, em 1998). O saldo em conta corrente passou de um déficit de US$ 6 bilhões em 1997 para um superávit de US$ 10 bilhões em 1998 e, desde então, registra superávits até hoje. A economia encolheu 7,4% em 1998, mas recuperou-se rapidamente.
O mesmo, aliás, aconteceu com os outros países asiáticos, como se vê.




Todos eles mantiveram superávit em conta corrente até 2002. Todos tiveram importantes reduções de crescimento em 1998, mas se recuperaram (com exceção da Indonésia) crescendo quase três vezes mais do que nós até 2001, quando a crise americana os afetou. O Brasil, com sua política de "panos quentes", continuou com crescimento medíocre, com imensos déficits em conta corrente e enterrado nas dívidas interna e externa...
Os fatos mostram claramente que não foram apenas as idiossincrasias do dr. Mahathir que produziram os resultados na Malásia, mas a dura política de ajuste adotada pelos países asiáticos. O importante, como é óbvio, não foi apenas produzir superávits, e sim ampliar as correntes de comércio.

Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br



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